O reggae é um ritmo marcante de raiz africana originado na Jamaica. Segundo se sabe “é o somatório melódico de ritmos como o blues, calipso, mambo, rumba, ska, rock steady, jazz e por incrível que pareça, de uma vertente da música sacra.”, esclarece Keyroga.
Wilson Keyroga, professor de história por formação e regueiro de coração tem seu nome associado hoje ao reggae mineiro. Mas devo dizer que nem sempre foi assim. Sua primeira canção, enviada à comissão julgadora do festival MPB Shell, parceria com um amigo, nada tinha de reggae.
No entanto, já no início da década de 80, Keyroga recebeu o “chamado”. Cabeça e coração foram fisgados e, como todo bom historiador, Keyroga começou a pesquisar o ritmo que passou a reinar em suas composições.
Ao mesmo tempo, ocorreu-lhe um convite irrecusável: Alguns músicos necessitando montar um trabalho de reggae solicitaram sua presença em um projeto musical, que resultou consequentemente na banda Kalimba.
Durante muitos anos a banda Kalimba atuou no cenário mineiro do reggae, tendo o Keyroga como guitarrista e backvocal da banda, até que em final dos anos 80, resolveu seguir carreira solo em função de algumas mudanças na banda.
A partir daí, sempre acompanhado pela banda Kalimba, o cantor, guitarrista, compositor lançou em 1996 seu primeiro álbum, Reggaereando – Keyroga e banda Kalimba, lançado de forma independente em primeira mão, e em seguida pela gravadora Zan Brasidisc, com distribuição nacional.
Neste álbum, Keyroga mostra dez faixas, nove composições inéditas entre próprias e parcerias, uma das quais com a participação do vocalista Samuel Rosa, da banda Skank. A inigualável “What Wonderfull World”, de George David e Bob Thiele, imortalizada por Louis Armstrong, foi regravada em ritmo reggae!
Muitas participações importantes ocorreram-lhe, como dividir palco com bandas de renome nacional, a exemplo, dos Paralamas do sucesso, Biquíni Cavadão e outros.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Wilson Keyroga para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 10/10/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Wilson Keyroga: Nasci no dia 06/10/1953 no Rio de Janeiro. Registrado como Wilson Luiz Queiroga.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Wilson Keyroga: Através de um tio (Bebé) que me ofertou um de seus violões.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Wilson Keyroga: Sou Historiador. Na música sou autodidata.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Wilson Keyroga: No passado foram obras do Samba e da Jovem Guarda, no presente o Reggae. Nenhuma influência musical deixou de ser importante.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Wilson Keyroga: Em 1979, comecei minha carreira musical em Belo Horizonte – MG.
Em 1979, eu mantinha contato com o regueiro e artista plástico VanSant que morava em Paris – França e quando ele vinha ao Brasil trazia as informações possível. Naquela época o reggae estava “bombando” na Europa ao contrário do Brasil que com a ditadura militar tornou o país, um campo hostil e infértil ao ritmo jamaicano.
No final dos anos 70, VanSant fez um intercâmbio para eu entrar na banda Fênix, que tinha um repertório bem eclético. A banda tinha dois líderes: o primeiro mais voltado para o pop rock e outro mais reggae. Nos anos 80 trocaram o nome da banda para Kalimba (nome sugerido pelo cantor, compositor Markú Ribas, já falecido).
No final da década de 80, por conflito de convivência entre os músicos a banda terminou. Eu não queria parar de tocar reggae e assim optou pela carreira solo. Daí por diante, trabalhei para resgatar a banda Kalimba e começar a nova caminhada.
Em 1996, lançamos o primeiro álbum e viajamos divulgando o trabalho através de shows e vendendo CDs. Não tinha nem gravadora, nem distribuidora, nem nada! Tinha muita vontade de tocar reggae.
Caminharam durante certo tempo pela estrada que leva ao sucesso, mas um tempo depois tive depressão que acabou com um pouco com a minha utopia. E só voltei aos palcos, em início de 1999. Mas Keyroga e banda Kalimba nos anos 90 foram protagonistas da cena do reggae mineiro como o precursor do reggae em Minas Gerais.
06) RM: Quantos álbuns lançados?
Wilson Keyroga: Em 1996, lancei o álbum Reggaereando – Keyroga e banda Kalimba, com as músicas: What A Wonderful World; Reggae Now; Mutações; Princesa (Wilson Keyroga / Samuel Rosa); Crimes Ocidentais; Reggae Universal; Dançando no Caribe; Espetáculo Pirotécnico; Angola Janga; Cidadania.
No início da década de 90 comecei a compor canções: Angola Janga – em homenagem ao movimento negro brasileiro, Espetáculo pirotécnico – inspirado nas trapalhadas políticas do fanfarrão presidente Fernando Collor de Melo, Princesa – em parceria com o grande baixista da banda de codinome Brother, e foi por aí!
Desta forma, em 1994 eu tinha material para o primeiro álbum e entramos para o estúdio de gravação. As dificuldades eram grandes, principalmente a financeira e uma saída digna para transpor esse obstáculo foi financiar o processo de gravação através do seu pequeno público.
Vendemos muitos CDs antes mesmo de gravar com a promessa de entregá-los quando ficassem prontos. Desta forma, teve momentos de vender em um só dia em torno de trezentos CDs, tudo na base do “corpo a corpo”. Independente!
Teve muitas participações especiais, e se destaca aí a presença do vocalista Samuel Rosa da banda Skank. Em 1996 cumprimos a promessa feita ao público. Entregamos todos os discos vendidos antecipadamente! Fez o lançamento e pé na estrada.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Wilson Keyroga: Reggae roots.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Wilson Keyroga: Não estudei técnica vocal.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Wilson Keyroga: É superimportante estudar técnica vocal e a voz tem que ser cuidada.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Wilson Keyroga: Bob Marley, devido a sua escolha filosófica musical.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Wilson Keyroga: Não existe um processo determinado para eu fazer música, pois pode ser por inspiração ou não.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Wilson Keyroga: Até hoje tenho apenas três composições em parcerias.
13) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Wilson Keyroga: Wilson Keyroga e Samuel Rosa.
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Wilson Keyroga: Não existe pró ou contra. Existe a realidade de cada um para desenvolver uma carreira musical independente.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Wilson Keyroga: Minhas estratégicas são as que mais me aproximam do meu público.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Wilson Keyroga: Minhas ações empreendedoras são as que buscam minha melhor produção artística.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Wilson Keyroga: A internet ajuda na produção e divulgação de minha carreira musical.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Wilson Keyroga: O acesso à tecnologia só traz vantagens no que se refere a produção musical.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Wilson Keyroga: Tento aproveitar o máximo da utilização das novas tecnologias.
20) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Wilson Keyroga: No Brasil, posso citar, Jorge Benjor.
21) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Wilson Keyroga: Passei por quase todas as situações citadas na pergunta, inclusive, cancelamento de contrato.
22) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Wilson Keyroga: Mais feliz é subir no palco, e mais triste é não subir por ausência de shows.
23) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Wilson Keyroga: Minhas músicas não tocarão nas rádios sem o pagamento do jabá.
24) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Wilson Keyroga: Digo que tenha Resiliência.
25) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Wilson Keyroga: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é muito insuficiente, pois a grande mídia não cumpre seu principal papel que é divulgar e informar com a devida fidelidade!
26) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Wilson Keyroga: O cenário do reggae no Brasil é muito consistente. Existem muitos trabalhos bons, porém como já disse, falta a grande mídia cumprir seu papel de informar.
27) RM: Você é Rastafári?
Wilson Keyroga: Eu não sou Rastafári.
28) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa tal afirmação?
Wilson Keyroga: Não existe religião rastafári, existe uma visão de mundo Rastafári.
29) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
Wilson Keyroga: Falta só divulgação para a música reggae no Brasil igual tem no exterior.
30) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System?
Wilson Keyroga: Eu prefiro a originalidade de tocar acompanhado por músicos no palco.
31) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae e o uso da maconha?
Wilson Keyroga: Acho um equívoco, pois a canabis sativa é apenas um instrumento ritualístico do rastafarianismo.
32) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a cultura Rastafári?
Wilson Keyroga: Tem tudo a ver a relação do reggae com a cultura Rastafári.
33) RM: Quais os seus projetos futuros?
Wilson Keyroga: Continuar fazendo música Reggae.
34) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Wilson Keyroga: (31) 99906 – 5750 | [email protected] | https://www.instagram.com/wilsonkeyroga | https://www.facebook.com/share/15gvqKd1yV/?mibextid=wwXIfr
Canal: https://www.youtube.com/@wilsonkeyroga
Benvindo ao mundo REGGAE. Mutações -Se inscreva no canal e compartilhe: https://www.youtube.com/watch?v=2ocV-eFrKtU
Keyroga: The heathen/ Angola Janga: https://www.youtube.com/watch?v=UNzO_VdXEbU
Playlist: https://www.youtube.com/watch?v=UNzO_VdXEbU&list=FL4tJDh_lbrja6PSq3OeEr7w
Álbum Reggaereando: https://music.apple.com/br/album/reggaereando/858036112