O violeiro paulistano Paulo Freire, estudou violão com Henrique Pinto, em São Paulo, e Betho Davesaky, em Paris, onde obteve medalha no “Concours de Classes Supérieurs de Paris”.
Em 1977, apaixonado pelo romance “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa, foi morar no Norte de Minas Gerais, região do rio Urucuia. Aprendeu a tocar viola com Manoel de Oliveira e outros mestres da região. Aprofundou-se nos costumes e lendas do sertão. Tocou as violas e compôs músicas para o seriado “Grande Sertão: Veredas”, da TV Globo.
Morou em Paris de 1982 a 1985. Além de estudar violão clássico, atuou em grupos de Música Popular Brasileira em vários países da Europa e na Argélia. Compôs trilhas especiais para matérias do programa “Globo Rural”, da TV Globo (entre elas “Escola de Peões”- Prêmio Wladimir Herzog de Direitos Humanos – 1993 e “O Umbu”- Prêmio Febraban – 1994).
Compôs, em parceria com Swami Júnior, a canção “Bom Dia”, gravada por Zizi Possi no disco “Valsa Brasileira” (Prêmio SHARP – melhor disco do ano – 1994). Tem dois romances publicados pela editora Guanabara: “O Canto dos Passos” – 1988, e “Zé Quinha e Zé Cão, vai ouvindo…” – 1993. Realiza uma turnê de viola-solo pela Europa, apresentando-se em festivais de World Music da Bélgica e Holanda – 1995. Grava seu primeiro disco solo de Viola: “Rio Abaixo”, independente, em 1995 (Prêmio SHARP de Revelação Instrumental).
Escreve o livro “Eu Nasci Naquela Serra”, biografia dos compositores paulistas Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha, em 1996, lançado pela Editora Paulicéia. Narrando a vida destes grandes compositores (autores de “Tristezas do Jeca”, “Saudades de Matão”, “Cabocla Tereza”, “Chitãozinho e Xororó”, entre outras), é contada a história da música caipira, até a transformação desta no gênero sertanejo. Escreve na revista “Caros Amigos”, da Editora Casa Amarela, desde o número 1 até o ano de 2007.
Foi integrante da Orquestra Popular de Câmera, que lançou seu primeiro CD em 1998. Prêmio Movimento – Melhor CD do ano. Em 1999 faz shows pelos EUA. Grava seu segundo CD solo: “São Gonçalo”, pela Pau Brasil, lançado em 1998.
Participa da série “Violeiros do Brasil”, televisionada pela TV Cultura e lançada em CD pelo selo Núcleo Contemporâneo. Tem uma sonata dedicada a ele: a “Sonata para viola caipira e violão”, composta por Paulo Porto Alegre. Esta obra foi interpretada e registrada em CD pelos dois instrumentistas na série “Rumos Musicais” do Instituto Cultural Itaú.
Entra para o grupo ANIMA, e grava o CD “Especiarias” – Prêmio Carlos Gomes, melhor grupo de câmera – 2000. Realiza duas turnês pelos EUA com o grupo Anima, em 2000 e 2001. Lança o livro e CD “Lambe-Lambe”, pela Editora Casa Amarela.
Grava uma versão da música Boi da Cara Preta para o selo americano Ellipsis Arts, na coletânea Papa’s Lullaby, lançado por esta gravadora em junho de 2001 – Prêmio Silver Parents Choice – EUA. Participa das filmagens do documentário sobre a vida e obra de João Pacífico – direção de Paulo Weidebach.
Junto aos violeiros Roberto Corrêa e Badia Medeiros, participa do projeto “Sonora Brasil”, do SESC Brasil, tendo excursionado pelo país e se apresentado em 36 cidades de oito estado brasileiros. Lança o CD “Esbrangente”, em 2003, com os violeiros Roberto Corrêa e Badia Medeiros. Grava as violas para o filme “Deus é Brasileiro”, de Cacá Diegues. É autor do ensaio A Música dos causos, presente no livro Literatura e Música, fruto de um curso ministrado no Instituto Cultural Itaú, lançado pela Editora Senac – 2003.
Lança o CD “Brincadeira de Viola”, com temas infantis, selo Vai Ouvindo – 2003. Com o “Paulo Freire Trio” – Tuco Freire, no baixo e Adriano Busko, na percussão – lança o CD “Vai Ouvindo”, ainda em 2003, com uma nova concepção para a viola. Apresenta-se com a Orquestra Sinfônica de Campinas, sob a direção do maestro Cláudio Cruz, tocando temas de sua autoria e clássicos caipiras – 2004.
Produziu, junto com o irmão Tuco Freire, o CD “Vida de Artista”, de seu pai, o escritor Roberto Freire – 2005. Fez a consultoria para o livro “Viola Instrumental Brasileira”, de Andréa Carneiro de Souza, com partituras e CD dos mestres violeiros do Brasil. Em 2006 atuou na série “Tropeiros”, do programa Globo Rural, interpretando o personagem Firmino.
Criou a trilha musical para o espetáculo de dança “Relevo”, da Confraria da Dança – Campinas. Produz o CD “Urucuia”, de Manoel de Oliveira, seu mestre de viola do sertão do Urucuia – 2006. Lança o CD “Redemoinho”, a viola em rodopio – 2007. Em 2008 lança o livro infantil “O Céu das Crianças” – Companhia das Letrinhas. Participou do projeto “Violeiros do Brasil”, de Myriam Taubkim, com lançamento de livro e DVD, pelo Projeto Memória Brasileira – 2008.
Compôs a trilha de abertura para o programa “Viola Minha Viola”, da TV Cultura, apresentado por Inezita Barroso – 2008. Gravou as violas para o longa-metragem “O Menino da Porteira”, de Jeremias Moreira – 2009. Em julho de 2009 lança o CD “Nuá – as músicas dos mitos brasileiros”, pelo selo Vai Ouvindo, com patrocínio da Petrobrás. Em 2010, 2012, 2014 e 2016 participa do “Boca do Céu – Encontro Internacional de Contadores de História”, em São Paulo; e em 2010 do “Simpósio Internacional de Contadores de História”, no Rio de janeiro.
Lança o romance “Jurupari”, pela Editora Vai Ouvindo – 2010. Nos anos de 2003, 2004, 2005, 2007, 2010, 2011 e 2013 participa do projeto “Baú de Histórias”, do SESC Santa Catarina, tendo se apresentado em diversas cidades do Estado com show de causos. É um dos curadores do Festival Voa Viola, evento nacional que conta com premiações, shows pelo Brasil e Rede Social – 2010/2012. Lança o CD “Alto Grande” em 2013. Em 2015 lança o CD infantil “Violinha Contadeira”, com músicas e causos para as crianças, patrocinado pelo FICC Campinas.
Um dos responsáveis pelo fato da viola estar ganhando as salas de concerto, Paulo Freire gravou com os violeiros Pereira da Viola, Passoca e Levi Ramiro e também participou da gravação de CDs dos artistas: Arnaldo Antunes, Mônica Salmaso, Luiz Tatit, Ana Salvagni, Maurício Pereira, Wandi Doratiotto, grupo Corpo, entre outros.
Participa do show “Tributo à Inezita Barroso”, com Ceumar e Lui Coimbra. Em 2016 lança o CD solo, instrumental de viola, “Pórva”. Com este trabalho, Paulo Freire está na lista do Melhores Instrumentistas de 2016, do site “Embrulhador”. Em 2015 e 2016, realiza 120 apresentações pelo projeto Sonora Brasil, do Departamento Nacional do SESC, por todo o país.
Junto com Wandi Doratiotto e Maurício Pereira formam o grupo “Três é Bom”. Em 2017 estreia o espetáculo “Imagina Só”, com a contadora de histórias Josiane Geroldi, com turnê por Santa Catarina. Este espetáculo integra o projeto “Arte da Palavra”, do Dpto Nacional do SESC, tendo se apresentado em cinco estados brasileiros em 2018.
Foi o curador da “Ocupação Inezita Barroso”, exposição sobre a cantora, realizada pelo Itaú Cultural, em São Paulo. Em 2018 estreia o show “Cunhado de Lobisomem”, uma saga caipira mitológica, criada com o cantor e compositor Danilo Moraes. Tem o projeto “Viola Perfumosa”, um tributo à Inezita Barroso, com Ceumar e Lui Coimbra, aprovado pela Natura, com gravação de CD pelo selo Circus e shows pelo Brasil – 2018. Lança o livro “Chão – uma aventura violeira”, pela editora Vai Ouvindo – 2019. Tem o trabalho “Cunhado de Lobisomem” premiado pelo PROAC, para a realização de seis apresentações no estado de São Paulo.
Devido à pandemia do covid-19 este espetáculo foi apresentado em uma live em dezembro de 2020, e outras quatro lives em 2021. Realizou diversas lives com amigos artistas durante o período da pandemia. Seu novo romance: “Selva”, é lançado pela Bambual Editora, em 2021. Vem fazendo shows, oficinas de viola e oficinas de causos pelo Brasil.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Paulo Freire para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 10.02.2023:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Paulo Freire: Nasci no dia 01/04/1957 em São Paulo. Registrado como Paulo de Oliveira Freire.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Paulo Freire: Minha mãe, Gessy, médica, tocava violino e cantava. Meu pai, Roberto Freire, escritor e somaterapeuta, foi jurado dos Festivais da Record e tinha muitos amigos músicos. Ouvia-se muita música em casa.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Paulo Freire: Estudei no CLAM – Centro Livre de Aprendizagem Musical, escola do Zimbo Trio, com Luiz Chaves e Cláudio Celso. Estudei em um Conservatório em Paris, com o mestre uruguaio Betho Davesac. Estudei Violão Erudito com Henrique Pinto. Aprendi a ser violeiro com o mestre Manelim, Manoel de Oliveira, no sertão do Urucuia – MG.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Paulo Freire: Por ter estudado improvisação, choro, música brasileira, violão erudito e viola, tenho influências muito variadas. Gosto e ouvi muito, por exemplo: Miles Davis, Pink Floyd, Debussy, Brahms, Jacó do Bandolim, Heitor Villa-Lobos, Renato Andrade, Raul Torres, Zé Côco do Riachão, Adão Barbeiro. Um bocado de gente extraordinária.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Paulo Freire: Em 1974 em São Paulo, por influência de meu irmão mais velho, Tuco Freire, também músico que faleceu em 2015. Desde criança ele sempre me incentivou, tocávamos e estudávamos juntos. Depois ele foi para a Berklee College of Music, e eu pro sertão. Anos mais tarde, voltamos a trabalhar juntos e ele esteve presente em quase todos meus CDs.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Paulo Freire: Individuais foram 11 CDs. Além disso fiz parte e gravei discos com o grupo Ânima, a Orquestra Popular de Câmara, os projetos Viola Perfumosa, Esbrangente e Papa’s Lullaby. Além de ter participado de trabalhos de muitos artistas.
CD – “Pórva” (2016) começou a tomar forma em janeiro de 2015, quando parei de viajar para trabalhar e sosseguei um tempinho. Fui ponteando a viola tranquilamente… no terraço, na sala, na cozinha, no quintal, sentindo o movimento de casa. As músicas foram surgindo a partir de pequenas ideias, pequenos rastilhos, que de repente eram incendiados e explodiam que nem pórva! Não tinha nenhum CD solo. Estava precisando dele, quer dizer, a vida me encaminhou pra ficar um pouco sozinho e a viola me fez companhia. Agora só falta o siô e a siora chegarem aqui pertinho.
CD – VIOLINHA CONTADEIRA (2015), Viola, causo e criança. Criança, causo e viola. Não importa quem vem primeiro. Só sei que os três juntos têm o poder de nos levar a lugares mais iluminados, justos e verdadeiros. O repertório de “Violinha Contadeira” foi curtido durante anos em espetáculos de contação de histórias para a criançada. Os causos são entremeados por canções que aprendi com mestres de viola do sertão, e também desafios de tabuada que compus especialmente para os pequenos. Tô te esperando lá dentro!
CD ALTO GRANDE (2013). Em Alto Grande procurei juntar de uma forma mais intensa o causo e a música. Escrevi grandes histórias e encaixei o acontecido em composições de viola. O CD tem também temas instrumentais, uma canção do mestre Manelim, músicas tradicionais brasileiras, além da faixa que dá título ao trabalho, Alto Grande, que traz a expectativa da esposa do vaqueiro enquanto esperava o marido voltar das comitivas de gado. Só ouvindo…
CD – Nuà (2009). Eu mostro em doze temas instrumentais – meus encontros com os seres que povoam nossas matas e o imaginário brasileiro. As músicas foram criadas com base na região onde ocorreram esses encontros. Assim, surgiu a ciranda dos tangarás, o coco da serpente emplumada, o caboclinho do curupira, a milonga do teiú do Jarau, o lundu do capeta, a guarània do lobisomem, a toada das veredas e a música indígena da cabeça voadora. Os arranjadores reviveram o acontecido e deram sua versão para os fatos. Foram convocados grandes músicos para contar o causo, cada um com seu precioso palpite, todos provocados pelos mitos.
CD Redemoinho (2007). Neste CD, trago a viola em rodopio. Em 12 composições inéditas, procura um novo movimento em seu trabalho. Junto à inseparável “cozinha”: Adriano Busko, na percussão, e Tuco Freire, no contrabaixo, o violeiro apresenta em Redemoinho o encontro com o violoncelo de Lara Ziggiatti, o sax alto e a flauta de Mané Silveira, o zarb de Dalga Larrondo e o pandeiro de Guello.
CD Vai Ouvindo (2003). É um disco diferente. Diversas situações da vida brasileira são mostradas: a história de Pedro e Paulo – os gêmeos que viraram passarinho, o bombardeiro em Canudos, a genialidade de Zé Limeira, além de “Round Midnight” na viola de cocho.
CD Brincadeira de Viola (2003). O CD nasceu de minha admiração pelo mundo da criança. Fui guiado pelas músicas curtidas através dos tempos, entoadas pelos meninos, mães, pais, tios, avós, em meio às brincadeiras de ciranda, voltado-inteiro, caninha-verde, e cantigas de ninar.
CD Esbrangente (2003). Eu, Roberto Corrêa, Badia Medeiros. Esse CD é fruto de uma turnê que Roberto Corrêa, Badia Medeiros e eu fizemos pelo Brasil em 2002. Seja no interior de Santa Catarina, na capital do Acre, norte do Amapá, sertão cearense, ou à beira do incrível mar alagoano, o que mais marcou esta turnê foi a alegria que brotava no público ao final de cada espetáculo.
CD Orquestra Popular de Câmara (1998). Ele traz uma nova sonoridade ao universo musical brasileiro a partir do encontro do mundo contemporâneo com o tradicional; dos instrumentos ligados à cultura urbana, como o saxofone, piano, cello e contrabaixo, ao rural da viola caipira, bandolim, acordeom, zabumba e pífanos. O primeiro CD da Orquestra recebeu o Prêmio Movimento de melhor CD do ano/99. Trabalhar com a Orquestra foi uma experiência incrível, são músicos e amigos excepcionais.
CD São Gonçalo (1998). São Gonçalo, o santo da fertilidade. Este CD mostra os novos rumos da viola, transportando-a do sertão para as salas de concerto. “Desejo que todos se divirtam, dancem, criem e procriem com este São Gonçalo” – Roberto Freire
CD Rio Abaixo (1995). “O CD foi a Revelação Instrumental, recebendo o Prêmio Sharp. Só ouvindo este CD fazemos ideia de seu conteúdo, cuidado com todo desvelo de um artista maior, que é, sem dúvida, Paulo Freire” – Henrique Pinto
CD Anima. ANIMA é um grupo que interpreta música antiga e tradicional. O repertório baseia-se na música brasileira de tradição oral, estabelecendo ligações com a música antiga europeia. Uma das características mais marcantes do grupo é a força de suas criações coletivas. Recebeu o Prêmio Carlos Gomes de melhor grupo de câmera 2000. Participar do processo de criação do Anima foi uma vivência riquíssima. São músicos excelentes, com diferentes formações e muita vontade de descobrir novos mundos.
CD Papa’s Lullaby (2001). Participação com a música: “Meu Boi da Cara Preta”.
CD Violeiros do Brasil. Participação com a música: “Seca”.
07) RM: Como você se define como Violeiro?
Paulo Freire: Sou cria de mestre Manelim. Fui morar no sertão depois de ler o romance “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Manelim me apresentou a viola do sertão. Me ensinou a observar a natureza e transformar em música. E, também por influência dele, misturei todos os outros aprendizados musicais na minha forma de tocar viola.
08) RM: Quais afinações você usa na Viola?
Paulo Freire: Basicamente a Rio Abaixo em Sol (G-D-G-B-D). Às vezes brinco na meia guitarra e na natural.
09) RM: Quais as principais técnicas o violeiro tem que conhecer?
Paulo Freire: Depende da curiosidade da pessoa. A viola tem técnicas diferentes espalhadas pelo Brasil, sotaques variados. Cada gênero tem uma técnica específica. O Brasil tem muito assunto. Creio que o ideal é tentar conhecer o maior número possível de técnicas, ritmos, melodias, afinações, sotaques, e a partir daí buscar o seu próprio caminho.
10) RM: Quais os violeiros que você admira?
Paulo Freire: Um bocado! Mestre Manelim, Zé Côco do Riachão, Adão Barbeiro, Renato Andrade, Helena Meirelles, Índio Cachoeira, Maurício Ribeiro (já falecidos). Além deles, admiro Roberto Corrêa, Levi Ramiro, Pereira da Viola, Zé Mulato, Chico Lobo, Cacai Nunes, Adelmo Arcoverde, Fernando Deghi, Wilson Dias, Rogério Gulin, Caçapa, Hugo Lins, Ricardo Vignini, Neimar Dias, Passoca, Almir Sater, Josino Medina, João Paulo Amaral…
11) RM: Como é seu processo de compor?
Paulo Freire: Variado. Às vezes parto de alguma história, um causo. Outras de observações sobre os movimentos de animais. Ou então fico tocando, à toa, até surgir uma nova ideia. Então desenvolvo para ver se dali pode se formar uma música.
12) RM: Quais as principais diferenças técnicas entre a Viola e o Violão?
Paulo Freire: Essa pergunta é muito complexa. Apesar da mecânica ser muito parecida, são dois mundos diferentes. Com técnicas próprias. Pode até se tocar uma viola com a técnica unicamente do violão. Mas aí vai deixar de lado toda a história e importância do instrumento.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Paulo Freire: Para um artista com o meu tamanho, a carreira independente é fundamental. Temos que aprender todos os caminhos de produção de um novo trabalho, além da divulgação, agenciamento etc. Se ficarmos esperando por alguém que irá alavancar nossa carreira, pode demorar um bocado, e até não acontecer. Acredito que se estivermos seguros em relação a um novo trabalho, nada impede que tentemos caminhos mais estabelecidos, mas o mais garantido é arregaçar as mangas e fazer.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Paulo Freire: Bom, dentro do palco é procurar sempre estar muito bem preparado, com as músicas estudadas, textos na ponta da imaginação, para que haja liberdade e divertimento para cutucar a emoção que acontece ali, ao vivo. Fora do palco, a partir de cada novo trabalho, procuro os caminhos mais adequados, de acordo com a realidade do momento. Além de procurar me juntar a artistas que admiro para buscar outros desafios.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Paulo Freire: 90% de minhas produções são independentes. Desta forma, vivo em função destas ações.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Paulo Freire: A internet ajuda a divulgar, compartilhar, encurtar distâncias. E o grande desafio é como ser visto, escutado, com o mundo de assunto disponível na internet. Penso que só prejudica se ficarmos escravos dela, ou compor em função da internet.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Paulo Freire: No meu caso, acho que a grande vantagem do home estúdio é preparar o material para futuros trabalhos. Prefiro e fico mais à vontade no palco do que no estúdio. Então gosto de entrar no estúdio com tudo já bem encaminhado, ou seja, com as músicas devidamente aprumadas a partir do trabalho pré-realizado no home estúdio.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar o CD não é mais o grande obstáculo. Mas concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Paulo Freire: É buscar meu próprio caminho. No caso, partir sempre de meu aprendizado no sertão, além de não ter medo em colocar minhas outras influências musicais (choro, jazz, clássico, caipiras). Também vou atrás dos causos, da mitologia brasileira, para transformar em arte meu encontro com estes seres.
19) RM: Como você analisa o cenário da música Sertaneja Caipira/Raiz. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Paulo Freire: O meu conhecimento é da música do sertão, além de seguir os violeiros. Não me arrisco a dar um palpite sobre este universo.
20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Paulo Freire: Mais feliz é estar no palco, ou mergulhado em um processo de criação. Ah, também gosto muito de ficar repetindo as ideias até elas criarem vida. Mais triste é ver grandes artistas passando dificuldades, por não terem tido condições de juntar um pé de meia para garantir sua sobrevivência.
21) RM: Quais os outros instrumentos musicais que você toca?
Paulo Freire: Violão.
22) RM: Quais os vícios técnicos o violeiro deve evitar?
Paulo Freire: Acho que o violeiro deve se preocupar em tocar Viola como Viola. Tem muito assunto que pode buscar, pesquisar, e aprender com os mestres da cultura popular.
23) RM: Quais os erros no ensino da Viola?
Paulo Freire: Não entendo desse assunto. Aprendi viola na roça. O seu Manoel, que faleceu em 2020, saberia responder isso melhor.
24) RM: Tocar muitas notas por compasso ajuda e prejudica a musicalidade?
Paulo Freire: Isso é irrelevante. Música não se mede por quantidade de notas.
25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Paulo Freire: Paciência, coragem, disposição, não esmoreça! No caso da Viola, não se esqueça de onde ela veio, e como se desenvolveu no Brasil profundo. Sala de aula é importante, mas a roça é fundamental.
26) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?
Paulo Freire: Também não sei responder. Tive muita sorte em ter tido grandes mestres.
27) RM: Existe o Dom musical? Qual a sua definição de Dom musical?
Paulo Freire: Sim, existe, assim como ter dom para ser um engenheiro, um luthier, um professor. Acho que o dom é aquela embocadura que a gente nasce para determinados assuntos.
28) RM: Qual a sua definição de Improvisação?
Paulo Freire: Criar livremente, naquele momento, único. Criar em um repente (daí a definição dos repentistas). Eu gosto de deixar momentos de improvisação dentro de minhas composições. Então estudo um bocado para conseguir explorar minhas emoções com fundamento.
29) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Paulo Freire: Opa, conforme eu disse antes. Eu estudo e aplico. Pode-se até deixar algumas cartas na manga, mas o improviso livre é mais emocionante.
30) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Paulo Freire: Não sei dizer…
31) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Paulo Freire: Eu gosto muito do estudo de Harmonia. O que aprendi no CLAM – Centro Livre de Aprendizagem Musical foi fundamental para mim. Tanto para tocar quanto para o prazer de escutar. Aliás, sou do tempo em que estudar harmonia, melodia, ritmo etc, era obrigatório para uma sólida formação musical.
32) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia do cenário musical brasileiro?
Paulo Freire: A grande mídia, em qualquer cenário musical, aqui ou em outros países, não está essencialmente interessada em cultura. Tem muitos outros interesses. A cultura serve como instrumento para se chegar a algum objetivo. Esse assunto é complexo e espinhudo.
33) RM: Qual a importância de espaço como SESC, Itaú Cultural, Caixa Cultural, Banco do Brasil Cultural para a música brasileira?
Paulo Freire: Fundamental para as artes! Para os artistas, o público, para o desenvolvimento de projetos, correr riscos, reconhecimento do fazer artístico. Muitas vezes, a partir de apresentações nesses espaços, tive a oportunidade de conhecer novos caminhos que, além de me proporcionarem incríveis experiências, ainda me ajudaram a ter coragem para seguir tocando o barquinho.
34) RM: Quais os seus projetos futuros?
Paulo Freire: Atualmente estou mergulhado em projetos que juntam a música com a contação de histórias. Tanto para shows quanto para discos (se é que ainda existem discos…)
36) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Paulo Freire: https://www.paulofreirevioleiro.com.br
| https://www.instagram.com/paulofreire.viola
| https://www.facebook.com/paulo.freire.75
Canal: https://www.youtube.com/channel/UC7UZCI60sr4swpZVEfwnnHA
SOLTA O SAPO (Paulo Freire – criação sobre versos de Zé Limeira): https://www.youtube.com/watch?v=1QHrhGIjj1U
SECA (Paulo Freire): https://www.youtube.com/watch?v=G5D7BODq5Pw
Josiane Geroldi e Paulo Freire: https://www.youtube.com/watch?v=AbqoB74WGHc
Ótima entrevista, já escutei muita obra desse cara,nota 10 um gigante, parabéns Antônio…
Gratidão, parceiro