Fernando Alge

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Fernando Alge estudou violão brasileiro com Vera Brasil, jazz e blues com Mozart Mello, e música dodecafônica com Arrigo Barnabé, entre outros.

A partir de 1982 deu aulas de música em diversas escolas de São Paulo até 1994 quando montou a sua própria escola, a Cia Hendrix, que existiu até 2020. Em 1989/90 trabalhou como guitarrista de bandas locais em Lisboa – Portugal e lá foi professor na escola Duarte Costa. De volta ao Brasil, tocou na banda de Lanny Gordon (o mais importante guitarrista do movimento musical brasileiro Tropicália) e Fabio Golfetti (atual guitarrista da banda Gong e Steve Hillage).

Participou de gravações dos discos Violeta de Outono (primeira banda de Fabio Golfetti), Invisible Opera of Tibet, Vladimir Safatle, Kodiac Bachine, entre outros.  Atualmente toca guitarra no Apokalypsis, banda do mítico Zé Brasil, e grava discos tributo ao tecladista inglês Rob Gould (Genesis, Vander Graaf e Pink Floyd).

Gravou o primeiro álbum de composições próprias em 2001, Tupibopp, e fez uma música em parceria com o compositor de bossa nova João Donato.

Segue entrevista exclusiva com Fernando Alge para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 06.11.2023:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Fernando Alge: Nasci no dia 11/06/1958 em São Paulo – SP. Registrado como José Fernando Vieira Alge.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Fernando Alge: Minha mãe (Carmen Maria Vieira Alge) tocava violão e cantava pra mim, foi ela que despertou minha musicalidade. Minha tia conta que eu chorava ao ouvir certas músicas, de emoção, eu devia ter uns 5 ou 6 anos.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Fernando Alge: Comecei a ter aulas de violão aos 8 anos com uma professora, Dona Adelaide, depois tive um professor particular que me ensinou a ler música, o sr. Antônio dos Santos.

Parei o estudo musical para fazer o vestibular de Engenharia, entrei na Faculdade, e só voltei a estudar mais tarde, com Vera Brasil, Roberto Vergal, Mozart Mello e José Walter de Campos Pereira em diferentes épocas.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Fernando Alge: No passado ouvia de tudo em minha casa, pois meus pais tinham uma ótima discoteca e os anos 60 foram férteis demais, a gente ouvia muita música boa na TV Record. Eu ouvia jovem guarda, Elis Regina, Frank Sinatra, Beethoven, Beatles, Mutantes…Nos anos 70 fui mais fundo no rock e descobri Yes, ELP, King Crimson, Hendrix, Stones, Led, Who, Clube da Esquina, Novos Baianos, Tropicália, Miles Davis, Hermeto Pascoal, John McLaughlin, Tom Jobim, mais ou menos mil artistas ou bandas que eu ouvia com avidez e me marcaram para sempre.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

Fernando Alge: Comecei em 1982 quando comecei a dar aulas de violão para iniciantes e a tocar covers com minha primeira banda, Adrenalina.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Fernando Alge: Sob o meu nome tenho um álbum em mídia física e nove nas plataformas de streaming. Com a banda DrFantástico gravei um álbum físico e um em streaming.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Fernando Alge: Gosto de definir meu estilo como o Hermeto Pascoal faz, faço música universal, eclética com tantas influências que fica difícil classificar. Gosto também do termo psicodélico. Brinco dizendo que faço jazz de índio.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Fernando Alge: Não estudei.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Fernando Alge: Acho todo estudo importante, mas às vezes ir na raça funciona muito bem.

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Fernando Alge: Amo Billie Holiday, Aretha Franklin, Janis Joplin, Cassia Eller, Baby Consuelo, Rita Lee, Joni Mitchell.

11) RM: Como é seu processo de compor?

Fernando Alge: Geralmente começo a improvisar e de repente sinto vontade de repetir o que estou fazendo e registrar ou por meio de uma gravação caseira ou escrevendo na partitura. A harmonia quase sempre vem em primeiro lugar junto com o ritmo, depois vem a melodia. Se no dia seguinte eu ainda estiver apaixonada pelo que eu fiz a música acaba ficando pra sempre.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Fernando Alge: Comecei com o escritor Ricardo de Moraes nos tempos de Faculdade e depois tive parceiros esporádicos como a poetiza Viviane Ka e minha filha, também escritora, Selene Alge. Tenho me inspirado muito na personalidade de meus companheiros da banda DrFantástico, Ricardo Martinelli, Gabriel Costa e Luiz Garcia, a ponto de compor pensando no que eles podem criar em cima, ou seja, é uma parceria platônica, muito inspiradora. E tem o baterista Victor Busquets também, comecei a fazer música com ele este ano.

13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Fernando Alge: O músico independente, apesar de ter total liberdade de criação, tem a enfadonha tarefa de ficar divulgando seu trabalho o tempo todo. Já o dependente de uma gravadora não precisa fazer tanto essa tarefa, mas tem menos autonomia pra fazer o que quiser, a menos que seu produtor lhe dê cartas brancas, o que é raro, mas não impossível.

14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Fernando Alge: Não tenho estratégias bem definidas, costumo apenas divulgar pelas redes sociais e manter minha integridade artística bem sólida e coesa.

15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Fernando Alge: Costumo estudar música sempre e me inteirar das novas ferramentas de marketing disponíveis na internet.

16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?

Fernando Alge: Ajuda no barateamento de custos de produção. Atrapalha na dificuldade em divulgar o meu trabalho, com tantos amadores fazendo música ruim por aí. 

17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Fernando Alge: A vantagem do home estúdio é a enorme praticidade de se gravar em casa, a desvantagem é a diminuição de investimentos em produções maiores por parte das gravadoras.

18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Fernando Alge: Procuro ser eu mesmo, procuro minha identidade como artista que me faz ser diferente de todo mundo, nem melhor, nem pior.

19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Fernando Alge: A música brasileira mais popular eu acho de péssima qualidade, mas isso não significa que não existam grandes talentos, só que eles têm menor popularidade. Houve atraso só na música de massa, os biscoitos finos continuam sendo produzidos. Como revelações posso citar: Hamilton de Holanda, Amaro Freitas, Bala Desejo, Caravela Escarlate e Culto ao rim, entre vários outros.

20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Fernando Alge: A pior coisa que me aconteceu foi ver minha namorada ser assediada durante um show num bar, desci do palco e fui brigar com o sujeito (ele era amigo do dono, tive que enfrentar muitos e fugir). A melhor coisa foi ser muito aplaudido e super bem tratado pela comunidade angolana em Sintra, Portugal, num show inesquecível.

21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Fernando Alge: O que me deixa mais feliz é a infinitude da música, por mais que estudamos ela sempre é mais vasta, mais profunda. Triste eu fico às vezes quando meu trabalho não é reconhecido.

22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Fernando Alge: Eu acredito no dom como uma facilidade que certas pessoas têm em se desenvolver rapidamente na música, fruto do ouvido absoluto, que é transmitido geneticamente, mas isso não basta: além do talento é preciso vocação. Acredito que o esforço pode alcançar resultados bem próximos do dom. Aprendi isso com o baixista Ray Brown, numa entrevista.

23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Fernando Alge: A improvisação é um voo musical onde apenas o ouvido conta, é pensar com música em vez de palavras. Ela pode ter regras definidas como no choro, blues ou jazz mais antigo e pode também não ter regra nenhuma, como no free, pode ter rede de proteção ou não, mas é sempre andar sobre um abismo.

24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Fernando Alge: Existe de fato, mesmo quando se estuda harmonia e escalas para executá-la. Como diz o John McLaughlin: quando estudo música eu penso, quando eu toco música eu ouço.

25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Fernando Alge: Creio que todos os métodos são válidos para se improvisar, o importante é se livrar de todos eles mais tarde.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Fernando Alge: Não tenho nada contra estudar harmonia com vários métodos, mas sei que tem muita gente que descobre tudo sem eles.

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Fernando Alge: O jabá agora está nas plataformas de streaming também. São cada vez mais raros quem consegue ser popular sem isso, infelizmente.

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Fernando Alge: A carreira musical é algo que não se escolhe, você é escolhido por ela, já dizia Fellini. Não basta querer tocar, você precisa ter uma imensa necessidade de fazer isso para ir em frente e superar as eventuais dificuldades que aparecerão.

29) RM: Festival de Música revela novos talentos?

Fernando Alge: Acho positivo Festival de Música, mas não tenho visto muito por aí.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Fernando Alge: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é muito fraca. Hoje em dia só descubro novos talentos através de dicas de amigos ou garimpando na internet. Não era assim quando comecei a gostar de música. O jornalismo me educou musicalmente revelando-me pérolas valiosíssimas.

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Fernando Alge: Acho ótima a curadoria de todos eles.

32) RM: Quais os seus projetos futuros?

Fernando Alge: Estou terminando de gravar o terceiro disco de minha banda de rock psicodélico DrFantástico, estou produzindo o disco jazz/soul do pianista Gerson Surya, iniciando uma parceria com o baterista Victor Busquets em música brasileira universal e esperando o lançamento do terceiro álbum tributo do tecladista inglês Rob Gould, desta vez uma homenagem ao Atom Heart Mother do Pink Floyd.

33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Fernando Alge: (11) 98629 – 5107 |  [email protected] 

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Psicotropicália: https://www.youtube.com/watch?v=xO2fbSaF2_c 

Playlist Trapizonga: https://www.youtube.com/watch?v=-Hx0LpSo1Bg&list=OLAK5uy_mbhMWtafjVkvujNh1-Tir2fFi-Ma0Qc80 

Playlist Capolavoro Vol.1: https://www.youtube.com/watch?v=I3H_-2HKuVs&list=OLAK5uy_nZure6kZnVz9y77aB2R_z7aGJXU7BI4hg 

Playlist Capolavoro Vol.2: https://www.youtube.com/watch?v=LK1mCesSZMI&list=OLAK5uy_kPZohdCQfbbNK04QnwYYdlzBvdXixsr3M 

Fernando Alge: https://open.spotify.com/intl-pt/artist/7egFQvIWNaAkQzwz5jIXtV?si=CTc1xYR9Q6OHop75A9FTaw&utm_source=copy-link&nd=1 

Fernando Alge: https://soundcloud.com/fernando-alge