More Chico Buarque gratidão por sua obra! »"/>More Chico Buarque gratidão por sua obra! »" /> Chico Buarque gratidão por sua obra! - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Chico Buarque gratidão por sua obra!

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Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa

Fui alfabetizado aos 10 anos de idade (Antonio Carlos da Fonseca Barbosa, o autor do artigo), o que contribuiu para que minha ligação inicial com a música fosse influenciada pelo ritmo. No meu repertório, as músicas teriam que ser para dançar em par, e as músicas para dançar sozinho eu não dava atenção.

Em 1989 (aos 17 anos de idade), comecei a leitura dos primeiros livros, o que me influenciou a prestar mais atenção à mensagem das letras, e no início dos anos 90 comecei a escrever meus primeiros poemas. O disco de vinil era artigo de luxo, e a gravação de fitas K7 com os sucessos dos artistas era a minha alternativa (pirataria).

Nessa mesma época, deixei de tocar os instrumentos de percussão e fui aprender a tocar violão e conhecer as obras de artistas da Música Popular Brasileira dos anos 60, 70, 80 e alguns roqueiros brasileiros. As letras com mensagens reflexivas e profundas passaram a ser meu “audiobook”, e eu escolhia meu repertório baseado no conteúdo das letras, independente dos ritmos e dos intérpretes.

Ao escutar os sucessos de Francisco Buarque de Hollanda, que fez 80 anos no dia 19 de junho de 2024, foi amor à primeira audição. Uma época em que me tornei adepto da ideologia de esquerda e a letra de “Vai Passar“: “…Num tempo / Página infeliz da nossa história / Passagem desbotada na memória / Das nossas novas gerações retratavam uma triste página da história / Dormia / A nossa pátria mãe tão distraída / Sem perceber que era subtraída / Em tenebrosas transações…” me marcou profundamente. Para ler, acesse: (https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45184) e para escutar, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=P6C5bZOr3xQ.

Vai Passar” é um samba Partido Alto que me lembrava a batucada de Escola de Samba e arrepiou minha alma, transportando-me aos anos 70, um período mais cruel da Ditadura Militar Brasileira. Chico Buarque voltou ao Brasil no dia 20 de março de 1970, depois de 14 meses exilado na Itália, e eu nasci no dia 12 de julho de 1972, tendo desfilado em 1989 tocando tamborim na Escola de Samba Vai-Vai em São Paulo. A música “Vai Passar“, com um surdo fazendo a marcação dos compassos binários, estava em sintonia com o pulsar do meu coração e da minha emoção. As letras da obra do artista são sínteses dos momentos de privação da liberdade dos jovens dos anos 60, 70 e 80. Cada música que eu escutava era uma aula de história do Brasil.

No início dos anos 90, comecei a leitura da obra de Che Guevara, livros sobre as ditaduras militares da América Latina, sobre as guerrilhas e autores socialistas, e quando escutei a música “Cálice” (Chico Buarque e Gilberto Gil) https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45121/ gravada por Chico com a participação especial de Milton Nascimento, ela se tornou meu combustível ideológico. As letras que não tratam da temática social têm um lirismo que me encanta. Quando eu comentava que gostava das suas músicas, as pessoas criticavam seu cantar, mas eu gosto das músicas cantadas por ele e das regravações feitas pelos grandes intérpretes que gravaram suas belas canções. Ele gravava suas músicas por saber que o artista ganhava mais que o ofício de compositor, fato que não mudou até hoje.

Suas letras eu lia como poemas, o que o fez ser o meu poeta preferido, mesmo ele nunca escrevendo uma letra sem a função de ser o corpo para uma melodia. Suas canções sem parcerias nasciam por conta de uma ideia melódica. É um artista que não tinha figurino para o show; subia no palco como um cidadão comum que faz arte, um cidadão politizado e de esquerda. Fora do palco, se tornava um jogador de futebol e temos em comum a paixão pelo Fluminense. Enfim, uma pessoa do bem, com virtudes e pecados! “Abandonou os palcos” para se dedicar à escrita dos seus livros.

Gratidão. Chico Buarque, por sua obra. Ele popularizou no mercado musical o nome Chico, igual ao nome Tom de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ao nome Vinícius, do poetinha Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, seus dois eternos amigos e parceiros de música e de boemia. Chico Buarque é, para todos que amam a arte, um gigante e genial artista brasileiro!

Links: https://www.chicobuarque.com.br

Coleção de CD de Chico Buarque: https://www.enjoei.com.br/p/colecao-de-20-cds-livretos-e-box-chico-buarque-55256826


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Comments · 18

  1. Ótimo texto, parabéns! Chico Buarque, para mim, é um gênio inquestionável da MPB, que entrará para história também por sempre ter estado do seu lado certo.

  2. Salve salve o grande Chico ! Sempre que toco ” Minha história ” me emociono , assim como Folhetim … intensos amores efêmeros … ele consegue sintetizar isso muito bem.

  3. Uma releitura escrita com muito carinho e que traz também muitas vidas vividas e inspiradas nas letras de Chico. Você escreveu lindamente =D

  4. Adorei o texto. E realmente Chico Buarque é um artista fora da curva. Muitas obras extraordinárias. Ele é um gênio, que merece e deve ser reverenciado todos os dias.

  5. Grande delicadeza em ver entre linhas e expressar com sabedoria as emoções em cada poesia em cada letra.
    Parabéns linda homenagem de muito bom gosto

  6. Oi, Antonio Carlos,
    Acabei de ler sua matéria sobre o Chico e adorei! Você é nove anos mais novo do que eu, mas compartilhamos momentos históricos semelhantes. Lembro que, em um show, o próprio Chico comentou: “Bem que minha mãe me disse para não ser cantor”, ou algo assim, quando desafinou ao tentar cantar uma das músicas. Foi engraçado! Mas quem se importa com isso? Chico é Chico! Parabéns, Antonio Carlos. A matéria está muito bem escrita. Beijos.

  7. Meu parceiro, em 1964, eu tinha 13 anos, e vivi o momento triste do desabastecimento no Rio, pra comprar generos alimentícios, como leite, carne. Era difícil, não tinha supermercado, muitas filas e quebradeira, tempos difíceis. No regime militar as coisas acalmaram, e eu formado em Técnico em Contabilidade era fã do Chico, que falava por nós, de uma forma poética inteligente, aquilo que queríamos dizer, esse tempo se perdeu, hoje entendo que a classe artística, mesmo falando entre linhas, algumas verdades, continua sendo “Amigo do Rei” como eram os Bobos do Corte.
    A tua leitura sobre o artista Chico Buarque, está perfeita, e foi dessa época, que guardo até hoje, essa sensação de nostalgia, e que me formou intelectualmente.
    A minha visão do passado continua a mesma, e TMJ nessa, o que me preocupa é o hoje, e o amanhã, não temos líderes que expressem a verdade, a honradez, e o Espírito do Brasileiro batalhador e consciente de seu dever como cidadão, a formação de nossas crianças é ideológica, robotizada, elas estão ficando cada vez mais atrasadas em relação aos jovens de outros países, que estão investindo pesado na educação de suas crianças.
    Forte abraço

  8. Foi uma alegria imensa ler o artigo de Antonio Carlos na Revista RitmoMelodia sobre Chico Buarque de Holanda. A forma como ele entrelaçou sua própria história com a de Chico foi simplesmente emocionante e revelou um profundo respeito e admiração por este grande artista. A dedicação e o carinho evidentes em cada edição da revista me encantam e me fazem admirar ainda mais o trabalho de todos vocês. Que a RitmoMelodia continue a brilhar e nos encantar por muitos e muitos anos. Sucesso e vida longa à revista!

  9. “Chico Buarque de Holanda tá tirando onda e não quer trabalhar, vive batendo uma bola e tocando viola de papo pro ar,mas sabe viver “,adorei quando ouvi essa frase na música do João Nogueira (clube do samba),adorava os artistas que utavam contra a ditadura, quando o Chico gravou ” Para Todos ” e saiu uma matéria no Jornal do Brasil, recortei a matéria e guardei, início dos anos 90.Parabéns Antônio, compartilhando conhecimento, você é meu Professor

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  10. Parabéns pelo lindo artigo, homenagem de tamanha grandeza a esse grande figura da boa música brasileira, o Chico Buarque! Valeu, exímio jornalista, músico e poeta Antonio Carlos!

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.