Lucas Callut nasceu em dia de santo, tempo de festas quintais e fogueira. Seu pai sempre quis ter um filho com nome de santo, como na música do Renato Russo. Pois bem, ele chegou ao mundo.
Era uma manhã fria do dia 24 de junho de 1993, na cidade de Guarulhos, dos Mamonas Assassinas, da Rebeca Andrade, do Aeroporto Internacional. Ele apenas com sete meses, decidiu que já era hora de ver o que esse mundo tinha para oferecer. No entanto, havia quem achasse que ele não fosse vingar, pesando apenas 1,7 kg.
Durante a gestação toda, estava certo de que o chamaria Lucas, porém, naquele dia de São João, sua mãe cogitou a ideia de colocar não um, mas dois nomes de Santo. Quase se tornou João Lucas, não fosse seu pai, na ânsia de o registrar antes que o pior acontecesse. Quando seu progenitor foi o visitar pela primeira vez, já chegou com a certidão de nascimento em mãos.
Nasceu com o Sol e ascendeste em Câncer, a Lua em Leão. Ele não sabe exatamente o que significa, dizem que tem ligação direta com o lado emocional e a intensidade. Ele é assim: sente tudo e de repente sente mais nada. Esse é seu paradoxo de vida. O seu coração à frente sempre esteve.
Mas, voltando à história do nascimento… Bom, a bolsa de sua mãe estourara no ônibus. Ali ela já sabia que a vida do filho seria uma grande aventura. Sua mãe sempre cantou. Quando jovem, cantava em barzinhos, mas também sempre cantou na igreja e daí vêm suas primeiras memórias musicais. Desde muito pequeno, ele, a acompanhava nos ensaios para as missas. Aprendeu as canções e tentava acompanhar. Adorava criar canções.
Na infância, ele gostava de muitos brinquedos, mas o que mais amava ganhar de presente, eram microfones. Sempre performava escondido na sala de casa, como se estivesse cantando para uma multidão. Escondia, porque sempre ouvi que artista vivia uma vida incerta e, talvez por isso, acabou sempre deixando a música em segundo plano.
Cresceu ouvindo de tudo. Em casa, seus pais e suas duas irmãs mais velhas o agraciaram com a possibilidade de conhecer o Rock brasileiro e internacional dos anos 80 e 90, Soul, R&B, Samba Rock, Samba, MPB, Bossa Nova, Jovem Guarda, Sertanejo, Modas de viola, Pagode, Música Erudita, Música religiosa, Pop, músicas infantis dos anos 90… Ele aprendeu muito com tantas canções que embalaram aniversários, copas do mundo e que formam meu repertório. Conforme avançou os anos, aprendeu a fazer suas próprias escolhas musicais, que compreendiam desde aquilo que se voltava à sua idade, como o que as pessoas mais velhas também ouviam.
Em 2004, pediu aos seus pais que me permitissem entrar nas aulas de canto. Precisou fazer um teste antes, pois na escola que os pais podiam pagar, havia uma faixa etária mínima. Aos 11 anos de idade, escolheu cantar Como nossos pais, de Belchior, que ele conheceu na voz de Elis Regina e Pintura íntima da Kid Abelha, sua banda preferida na época. Estudou canto para sempre, desde então e ao longo dos anos se dedicou a outras artes também, como à dança, ao teatro e à literatura.
Na história da cigarra e da formiga ele sempre fui a cigarra. O palco sempre foi e sempre será seu lugar (talvez, por isso, também se tornou professor). A vida é muito curta para ser uma coisa só e, tudo o que se permitiu aprender, serve de bagagem para o meu eu artista.
Em 2013 compôs sua primeira música, Marina do Mar. Seguiu compondo, mas só teve coragem mesmo de dar a cara a tapa e mostrar para as pessoas aquilo que ele produzia durante a pandemia da Covid-19, em 2020. Com as lives no Instagram, muitas pessoas vinham perguntar se ele tinha material no YouTube, Spotify e afins. Ele não tinha nada e é péssimo com produção audiovisual e como tinha de trabalhar, sem o apoio de ninguém, acabou não conseguindo produzir esse conteúdo.
Em setembro de 2020 fez uma live no estúdio com o qual fechou uma parceria incrível. Muitas pessoas se conectaram e começaram a elogiar suas composições. Viu que não dava mais para deixar guardado só para ele todo o seu material. Colocou como meta, em 2021, lançar, então, seus singles. E cá está ele, abrindo um pedacinho da sua vida a quem escuta suas músicas. Em setembro de 2021, um ano após a live que se desencadeou a necessidade da música, em fim, se tornar prioridade, lançou sua primeira canção nas plataformas digitais. E agora todos podem ouvir suas canções.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Lucas Callut para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 07/07/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Lucas Callut: Nasci no dia 24 de junho de 1993 em Guarulhos – SP.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Lucas Callut: Minhas primeiras memórias quanto indivíduo são relacionadas à música. Lembro de quando criança eu compor musiquinhas sobre coisas que eu sentia. Uma vez criei uma música porque eu tinha conseguido ficar sem falar por 5 minutos (eu era tagarela e bastante hiperativo). Mas a memória mais marcante que me fez entender que era isso que eu queria para
a vida foi quando cantei “Como nossos pais” em um karaokê aos 7, 8 anos. Eu não sabia da potência dessa música e as pessoas ficaram embasbacadas e começaram a bater palmas. Eu amei aquela sensação.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Lucas Callut: Sou formado em Letras (Português/Espanhol) pela Universidade Federal de São Paulo. Mas me especializei também em marketing. Estudei canto em diferentes escolas musicais e hoje estou com um preparador vocal, o Felipe Melo. Ah, também estudo teatro na Etec de Artes, em São Paulo.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Lucas Callut: Minhas influências do passado seguem comigo. De alguma forma, seja ao escrever ou criar melodias, tudo o que eu escuto pode se tornar referência. Nando Reis, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Kid Abelha, Madonna… Acho que é mais fácil eu dizer quais estão mais presentes neste momento, que são: Rita Lee e Cazuza, os principais nomes que me influenciam. Inclusive, a melodia de “Contra tudo e contra todos”, eu fiz me baseando em “Esse tal de Roque enrow”. Compus com a mesma idade que a Rita tinha quando lançou o “Fruto Proibido”. Enviei a minha música pro Roberto de Carvalho que ouviu e me respondeu e esse foi um dos dias mais felizes da minha vida.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Lucas Callut: Foi durante Lives na pandemia do Covi-19 (2020). Eu havia acabado de me mudar para morar sozinho quando estourou a pandemia. Sozinho de tudo, comecei a fazer lives para conversar com as pessoas e nesses encontros comecei a tocar LG umas canções e fui mostrando composições que nasciam naquele momento. Quando toquei “Queria ter uma bicicleta”, muita gente veio me pedir para gravar e enviar a elas ou colocar no Spotify.
06) RM: Quantos álbuns lançados?
Lucas Callut: Lancei meu primeiro álbum no dia 02 de julho de 2025, mas antes havia lançado dois singles, um em 2021 e outro em 2022 e mais outros sete entre 2024 e 2025 que anteciparam o lançamento do álbum com as 12 músicas.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Lucas Callut: Música Brasileira. Gosto de tudo o que ela abraça, as influências do rock, jazz, blues, samba, bossa…
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Lucas Callut: Estudo técnica vocal desde 2004, passando por canto-coral, teatro musical, um pouco de lírico, mas sobretudo canto popular.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Lucas Callut: A voz é e sempre foi o principal instrumento de trabalho. Sou comunicador e professor, além de cantautor. Com os estudos vocais eu consigo preservar a qualidade da minha voz.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Lucas Callut: Cazuza e Rita Lee, mas também Milton Nascimento, Caetano Veloso, Nando Reis, Marisa Monte, Gilberto Gil, Elis Regina, Dona Onete, Daniela Mercury, Maria Bethânia, Gal Costa, Madonna, Shakira, Mallu, Jão, Anavitoria, Lia Sophia, Lia de Itmaracá, Luedji Luna… tenho paixão por vozes femininas.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Lucas Callut: Varia muito! Às vezes tenho algo engasgado que preciso dizer. Outras vezes são melodias que chegam aos meus ouvidos e a letra vem depois… às vezes me contam histórias e me imagino no lugar daquela pessoa e daí começo a escrever… não tem um padrão.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Lucas Callut: Por enquanto, eu mesmo. Mas tenho muita vontade de compor junto e é um movimento que venho fazendo nos últimos meses pra acontecer.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Lucas Callut: Ser uma “euquipe”. A gente aprende a se virar: gravar, editar, fotografar, gerenciar redes, meter as caras em editais, mandar e-mails pra portais, vender shows… mas ao mesmo passo que aprendemos, também nos desgastamos. No fim, sobra pouco tempo para a criação artística de fato.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Lucas Callut: Primeiro traçar meus objetivos e colocar em ordem de prioridade e possibilidade. Onde quero chegar? Mas o que preciso fazer para isso? O que já tenho? Como conquistar o que falta. Uma análise swot ajuda, mas é preciso pensar em soluções também. Eu já fazia isso, mas em uma oficina com a Anita Carvalho percebi a importância de se pensar em soluções aterradas.
Todo o movimento externo ao palco eu faço para que ele me leve ao palco que é o que mais me dá prazer em todo o processo.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Lucas Callut: Faço cerimônias ou shows em eventos, mas também vendo os produtos da minha lojinha, a Tamborim, que contêm trechos das canções, além de ser redator, professor de literatura e revisor de textos. Mas minha meta é viver da música.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Lucas Callut: A comparação que a gente acaba fazendo com outros perfis acaba desmotivando. É preciso estar atento a isso. Além dos números e expectativas. Na internet não adianta você ir com sede ao pote. Às vezes pensamos num conteúdo massa, trabalhoso e que acaba não chegando em ninguém. Há outros, que não pedem muito planejamento, e que os números são surpreendentes. O negócio é não ter expectativa.
E o lado positivo da internet é romper com as barreiras geográficas. Uma música minha teve muitos ouvintes em Portugal, por exemplo. Se eu fosse pela mídia tradicional, demoraria muito para estourar a bolha, por exemplo. Com a música eu acabo conhecendo gente de todo lugar e minha música chega a esses lugares. É linda demais essa parte do trabalho.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Lucas Callut: Vantagens do home estúdio são a democratização e possibilidade de poder criar sem precisar de um investimento absurdo como seria a gravação num estúdio completão. A desvantagem é a falta de recursos, que às vezes só uma gravação com um músico tocando dá conta, porque o digital pode soar ainda artificial.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Lucas Callut: Aprendi que preciso ser eu mesmo. Quem se identificar com a minha obra, vai se identificar pela verdade e delicadeza que eu trago. Eu não tenho medo de deixar claras as minhas referências e vejo o quanto outras formas de arte me influenciam na escrita das letras, sobretudo a literatura.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Lucas Callut: Acho que falta mais espaço para que a MPB se torne mais popular, inclusive pela forma como aprendemos a interpretar e ler canções na escola. Acho que a educação precisa valorizar e melhorar o ensino da arte e então as pessoas
conseguirão compreender e se conectar melhor com a nossa música.
Mas quando vejo Anavitoria, por exemplo, a complexidade das melodias e letras e como isso atinge os mais novos, me dá muita esperança. Além delas, outras revelações que me enchem o coração são Matu Miranda, Bruna Magalhães, Jotape, Marina Sena… é um cenário musical muito abundante. Só falta chegar nas pessoas.
E é interessante ver como artistas consagrados há mais tempo abraçam essa nova geração. Nando Reis é um ótimo exemplo. Em pleno 2024 lançou um álbum triplo, já cantou com Gal Costa e Gilberto Gil, Pitty, Jâo, Anavitoria, Duda Beat… o ruivão é um dos meus maiores ídolos, seja musicalmente ou em relação ao cuidado com a carreira.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?
Lucas Callut: Acho que foi em um show no teatro Gazeta que o teleprompter não estava espelhando as letras e esqueceram de colocar um microfone para mim no palco e eu precisei falar para o público que eu ia sair e entrar de novo e eles teriam de manter a energia lá em cima. O público foi ótimo e fizeram isso. Foi lindo!
21) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Lucas Callut: As dificuldades em fazer minha música chegar nas pessoas. As alegrias são ver as pessoas cantando minhas músicas, compor, cantar, fazer show, gravar clipes… eu amo toda essa parte criativa (e de me exibir também, risos). Nasci para o palco.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Lucas Callut: Acho que nascemos com uma pré-disposição. Mas “dom” não é suficiente. Tem de estudar muito!
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Lucas Callut: Você criar a partir de todo um repertório que você adquire ao longo da vida e que não está ligado apenas ao fazer musical.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Lucas Callut: Toda improvisação, seja na música, dança ou no teatro, depende de repertório sonoro, intelectual, corporal… nada surge do absoluto nada.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Lucas Callut: Acho que são métodos individuais. Cada um escolhe e se entende da forma como se sente melhor. A arte não pode ser encaixotada.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Lucas Callut: Não existe um certo ou errado. O conhecimento de campo harmônico e teoria musical permite maior profissionalismo e aperfeiçoamento.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Lucas Callut: Risos: curadores das rádios: onde habitam? Do que se alimentam? Vamos ser amigos?
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Lucas Callut: Viva! Se jogue. É difícil demais, sinto na pele todos os dias. Mas enquanto fugi disso por achar impossível, nunca fui plenamente feliz.
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Lucas Callut: Sinto que nos últimos anos está havendo uma repetição de nomes nos festivais. Poderia abrir mais espaço para novos talentos.
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Lucas Callut: Falta dar mais atenção a artistas independentes. A grande mídia acaba privilegiando alguns nomes e gêneros específicos e tem muita gente fazendo um trabalho incrível aqui no Brasil e que não chega para a população.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Lucas Callut: Os espaços citados ajudam a cultura a se democratizar, cumprindo muitas vezes um papel que o Estado sozinho não daria conta. São um grande suporte, sobretudo para artistas independentes.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Lucas Callut: Gravar os clipes das canções inéditas do álbum (ou parte deles), seguir com o clube do livro que esse lançamento me inspirou e fazer muitos shows, conseguir editais e leis de fomento…
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Lucas Callut: (11) 94061-3344 para shows | https://www.lucascallut.com.br | [email protected] | https://www.instagram.com/lucascallut |
https://www.facebook.com/lucascallutoficial
Canal: https://www.youtube.com/c/LucasCallut
Uma bela trajetória, desde o nascimento. Muito bom conhecer tantas histórias e talentos aqui na Ritmo e Melodia!