Jon Sul é natural de Barreirinhas – MA e mora em Raposa – MA, na Ilha do Maranhão, desde os 7 anos, dos seus 40 anos. É cantor, compositor e músico executante. É também marinheiro e de família de pescadores.
O universo que habita em Raposa, entre o mar, a terra florestada de mangue e a lua são temas para seu CD – “Até o horizonte”, já finalizado após muitos percursos de gravação independente. O CD tem arranjos de Jesiel Bives (teclados), e mais: Edinho Bastos (Guitarra), Fofo Black (bateria), Davi Oliveira (baixo) e masterização de Moisés Mota; com editoração gráfica de Claus Alves da Silveira.
Olhar crítico e mente irrequieta são um encontro de Jon com os poetas radicados em Raposa, seus parceiros. Com Francisco Torres, “Pão salgado”, “Fonte de renda-se” dá conta da cultura local entre pescadores e rendeiras; com Luís Lima, “Meio de corrida” é canção de resistência!
Conhecendo Jon e sua música, conhece-se o lugar de onde é: “Seca” é seu percurso sobre a história dos retirantes, especialmente índios Tremembés, que por aqui chegaram expulsos do Ceará; “Lua de sangue” e “Ao pé do mangue” são retratos da sua vida e convivência entre amigos e a natureza da região.
Para Jon: “Tem que se fazer caminho / Para depois fazer-se estrada”, como em “Caminho”!
Segue abaixo entrevista com Jon Sul para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 20.07.2022:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Jon Sul: Nasci 02/07/1982 em Barreirinhas – MA (A cidade dos lençóis maranhenses). Fui registrado como Joucerland Rocha Sousa.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Jon Sul: A lembrança mais forte que eu tenho é do meu pai, Martinho Gomes de Sousa, me presentear um violão. Eu tinha aproximadamente seis anos, brinquei bastante, mas no dia seguinte, quando perguntei pelo meu violão, ele havia sumido. Lembro de minha mãe, Maria do Carmo Rocha Sousa, brigando com meu pai, para que mandasse seu irmão (Bajal) embora, pois o mesmo tinha dado fim ao meu violão. Chorei bastante e fiz uma promessa de que quando eu trabalhasse iria comprar meu próprio violão. Aos 17 anos de idade, quando tive meu primeiro salário fixo, trabalhando de servente de pedreiro.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Jon Sul: Comecei o estudo de música como autodidata, pois um conhecido me passou três acordes, tocava todas as músicas com esses acordes. Depois estudei coral, teoria musical, entrei para uma escola de música e fiquei por seis meses. A minha formação é técnica, mas nunca fiquei em uma escola de música até alcançar esse patamar. Minha formação acadêmica, por ser amante da natureza, em especial do mar, eu sempre tentei focar em formações na área, então, após concluir o ensino médio, fiz curso de marinheiro auxiliar de convés, técnico portuário e por último fiz curso superior de Oceanografia (incompleto), pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Jon Sul: Quando comprei o meu primeiro violão a minha meta era aprender a tocar só as músicas do Raul Seixas, achava muito hilário a forma como Raul cantava e compunha, mas eu ouvia de tudo, pois meus avós tinham vitrola e tinham vinil desde discos de piadas, Luiz Gonzaga, Bob Marley, Bartô Galeno, vários discos de lambada, eu ainda ouvia Legião Urbana na fita K7. Nenhum dos artistas que eu ouvi deixaram de ter importância, até porque se tornaram eternos.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Jon Sul: Aos 17 anos de idade, após comprar o meu primeiro Violão, fui em busca de um mestre, sem sucesso, então, conheci um caseiro que sabia tocar algumas acordes. Ele trocou três acordes por uma aula de dança, daí aprendi a tocar dezenas de músicas com três acordes. Fiz serenatas nas praças de Raposa, onde fui descoberto por um microempresário, Francisco Torres, que me contratou para tocar no seu aniversário de casamento. Uma missão e tanto para quem só queria tocar para si mesmo. Depois desse show fiquei amigo do microempresário, que também é um grande poeta e meu parceiro musical em algumas canções.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Jon Sul: Quatro CDs: Joucerland Stones – “Abstrato”; Joucer Breve – “Mais flores”; “Jon Sul” – “Até o horizonte”; Jon Sul e Luís Lima – “2019’64”. Um EP – Boizinho Cidadão com três músicas bumba boi para crianças. “Até o horizonte” foi lançado nas plataformas digitais e em CD e “2019’64” – Jon Sul e Luis Lima, apenas nas plataformas digitais e ainda um single “Chuva de Solidão”.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Jon Sul: Música criativa. Poemas musicados.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Jon Sul: Por força do acaso aprendi a gostar de ser autodidata, mas também amante do conhecimento. Busquei me aprofundar e estudei um pouco de partitura musical e ainda Canto Coral com o professor José Leno, onde aprendi algumas técnicas vocais, inclusive a cantar afinado.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Jon Sul: Eu, antes de ter conhecimento da técnica vocal, não sabia da sua importância, mas hoje consigo sentir na voz o conforto de cantar e no outro dia não estar com a garganta doendo e até mesmo impossibilitado de pegar shows simultâneos. Não apenas a técnica vocal, mas também o conhecimento do limite de sua voz, para poder cantar em um tom confortável e agradável. A técnica vocal é importante e também é essencial que o cantor use técnicas para melhor potencializar sua voz/impostação, e o cuidado para evitar calos nas “pregas vocais”.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Jon Sul: Procuro não admirar nenhum artista e sim a sua obra, pois o artista é pessoa e há muitos boatos e escândalos. Mas sobre a obra de cada artista sempre há muito o que se debruçar. Acho muito lindo a impostação vocal de muitas cantoras e de inúmeros cantores, na grande maioria são brasileiras (os), só não vou citar nomes para não pecar ao esquecer de alguém.
11) RM: Como é seu processo de compor?
Jon Sul: Muitas das vezes eu evito, aí a música insiste e daí eu pego papel, caneta e o violão e acontece de forma instantânea. Mas também tem poemas que já estão prontos e só ajusto para a melodia que faço, outras vezes penso em uma ideia e falo com o poeta para escrever algo com o tema e ao pegar o poema eu faço a melodia. Há também as parcerias em que já há algo começado e eu só ajusto a melodia e a letra. Não tenho um padrão, do jeito que vier eu faço, até já fiz música dormindo: “A semana e o sonho” – música do álbum “Abstrato”.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Jon Sul: Pela ordem: Francisco Torres (meu poeta preferido) que assina em sua página – Facebook como “metido a poeta” e Luís Lima (Poeta, Escritor, Cantor, Compositor, Músico, Produtor fonográfico) um exímio cantautor.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Jon Sul: Os prós é não se sentir obrigado a surfar na onda do momento e poder ser livre para autorizar que outros artistas cantem seu trabalho sem muitas burocracias. Os contras é que você tem potencial para lançar um álbum por ano mas não tem recursos para tal.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Jon Sul: Essa pergunta me fez refletir, pois sempre fui amador, e a minha estratégia dentro do palco está sempre voltada a agradar ao público, respeitando os artistas que tocam comigo e/ou que estão presentes na plateia. E executar o que me propus, mas sendo flexível às possíveis mudanças. Fora do palco a estratégia e estar sempre produzindo e fomentando cultura e investir, em média, 30% do que eu ganho em arte.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Jon Sul: Comecei pela organização da minha marca “Jon Sul” e tornei microempreendedor individual – MEI, como sendo audiovisual, fiz parcerias, autorizei a distribuição das minhas músicas nos canais de streaming e continuo produzindo e publicando.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Jon Sul: As ajudas da internet estão nos tutoriais via YouTube que podemos acessar e tirar algumas dúvidas, pois os programas estão sempre com “melhoramentos” e nunca somos avisados sobre. Eu me sinto prejudicado com as frequentes mudanças e não consigo acompanhar, parece que o artista tem que está em todos os aplicativos e redes sociais para decolar e eu não dou conta. Eu me prepararei para lançar um CD físico e depois de todo investimento descobri que está ultrapassado esse formato e que as pessoas só querem ouvir áudios no streaming ou videoclipes via internet (risos), ou melhor, sempre me sinto como alguém que chegou atrasado para a festa (risos).
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Jon Sul: A vantagem é poder fazer gravação de música a baixo custo e poder acessar esse estúdio na hora e dia que você quiser, pois está no seu quarto/quintal. As desvantagens é não poder contar com as tecnologias de alto nível e os profissionais que só os grandes estúdios dispõem.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Jon Sul: Tudo o que eu faço me leva, mesmo que acidentalmente ao diferente, são diferentes: as minhas canções, a minha forma de cantar, o meu timbre vocal. Ainda não sei é como me destacar no meu nicho, mas busco ser diferente até ao falar da minha cidade (Raposa – MA) e das coisas que me rodeiam.
19) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Jon Sul: Os grandes artista desse nicho MPB foram bastante egoístas e não deixaram as portas abertas aos novos artistas. E, parece que se sentiam tão insubstituíveis que não apadrinharam ninguém, quiseram empurrar seus filhos e netos de garganta a dentro do mercado musical, mas não deu certo. Hoje tudo virou música popular brasileira e ao mesmo tempo, os jovens dizem que não gostam de MPB. Eu, nasci em 1982 e não consigo perceber nenhuma revelação após 2000, mas pode ser apenas meu desleixo acerca desse assunto.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?
Jon Sul: Das situações citadas na pergunta, só não aconteceu de eu tocar e não receber. A história que mais me marcou foi quando fui tocar em um ambiente sem palco e as pessoas vinham pedir a música diretamente comigo. Um ouvinte me cuspia todo enquanto pedia sua música preferida, foi hilário, mas nada legal, eu me senti tomando um banho de um chuveiro de saliva.
21) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Jon Sul: Mais feliz: o reconhecimento dos que consigo alcançar com minha arte. Triste: não ter as condições para chegar mais longe e alcançar mais pessoas para que elas possam decidir se gostam ou não do meu trabalho.
22) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Jon Sul: Acredito na herança herdada e adquirida, eu pensei que tinha um Dom musical, mas lembrei que minha mãe cantava muito e cantava para me ninar ou quando estava fazendo artesanato e era muito afinada. Tinha uma voz de soprano, algo angelical, então, eu fui beneficiado por essa herança herdada de minha mãe e depois obtive outros conhecimentos com alguns mestres e ouvindo cantores (as) bem afinados. Hoje consigo reproduzir o que ouço e ouvir bem tudo que está ao meu alcance auditivo. Agora, quem ouvir meus filhos cantarem vão dizer que eles já nasceram com o Dom, não sabendo que eu fiz o mesmo que a minha mãe fez, para que eles tivessem o ouvido e a voz afinados. Mas vendo o Dom como uma aptidão, eu considero que há muito do desejo de cada um, às vezes essa vontade é despertada de forma inconsciente e aí, fazemos muito em segredo e quando as pessoas percebem aquele talento/aptidão já está tão bem apurada que muitos dizem que você já nasceu com o Dom para tal.
23) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Jon Sul: É uma ação de improviso que pode dar certo ou não, na maioria das vezes é um arranjo que sai do padrão já conhecido, mas não fica fora do padrão melódico.
24) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Jon Sul: Existe, no início é algo intuitivo aí a pessoa vai colecionado em sua memória musical o que dá certo e descartando o que não dá. Mas sempre é algo dentro de algum estudo, dentro de alguma escala musical, sempre tem alguma fundamentação.
25) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Jon Sul: Os prós é você conseguir aplicar arranjos mesmo sem ter se dedicado a ouvir a roupagem original da música! Os contras é o risco de desagradar os ouvidos mais exigentes e que já se familiarizaram com aquele arranjo original da música, pois às vezes o solo é mais famoso que a própria canção. Ainda há o risco de o artista ficar mal-acostumado, pois o improviso funciona como um “macete” que pode deixar o músico preguiçoso.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Jon Sul: Não consigo ver contras no estudo de harmonia musical, até defendo que seja a melhor forma de passar conhecimento, pois dá o sentindo de que as notas estão em família e que elas se organizam e ao entender essa organização você pode executar com maior facilidade. Agora, claro que o método de harmonia não é algo que por si só se complete, pois há ainda os métodos de estudo da melodia e do ritmo/tempo para que se possa ser um todo.
27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Jon Sul: Sim, acredito. Mas se puder pagar para suas músicas tocarem na programação da rádio, as coisas acontecem de forma mais rápida. Mas existem as rádios comunitárias, rádios online, as empresas de distribuição gratuita para o streaming, os programas de TV Culturais, etc. Então, montando a estratégia certa as coisas acontecem com o mínimo de investimento financeiro possível.
28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Jon Sul: O máximo que pode acontecer se não der certo a carreira musical, é você se divertir bastante e ainda levar de brinde vários amigos para vida toda.
29) RM: Festival de Música revela novos talentos?
Jon Sul: Acredito que sim, mas o artista tem que estar disposto a fazer “network” no Festival de música e não ir pensando que é fácil e que é o tal, pois os veteranos estarão lá para mostrar que mandam no pedaço (risos).
30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Jon Sul: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é mesquinha quando o artista não é midiático e sempre um leilão para quem pagar mais ter maior destaque na grande mídia.
31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Jon Sul: Embora ainda não tenha conseguido ter nenhum de meus projetos aprovados pelos citados, já vi algumas apresentações e vejo como uma ação positiva, pois é um espaço em que o artista pode oferecer sua intimidade cultural, autêntica e nua de conceitos predefinidos.
32) RM: Quais os seus projetos futuros?
Jon Sul: Continuar publicando; fazendo parcerias; Gravando músicas autorais independentes; executar projetos rotativos com banda; rejuvenescer fazendo arte.
33) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Jon Sul: (98) 98453 – 2994 | [email protected]
Instagram: https://www.instagram.com/jon.sul.oficial
Streaming: https://onerpm.link/817515010376
Canal: https://www.youtube.com/channel/UCfak6ZoghKLVGlrcm876jxA
Caminho – JON SUL: https://www.youtube.com/watch?v=OKMsuLqMnAw
Toda a dança / Passos do tempo (autor Jon Sul / F. Torres): https://www.youtube.com/watch?v=ndwE1uq94v4
Prelúdio para vitória ( Jon Sul & Luís Lima ): https://www.youtube.com/watch?v=m1PL1JkDCWs