O cantor, compositor e multi-instrumentista João Beydoun aprendeu sozinho a tocar contrabaixo, violão, guitarra, bateria e teclado.
Em 2021, João lançou seu primeiro EP, “Irie”, e começou sua carreira musical. Ele é filho de Fauzi Beydoun (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/tribo-de-jah), líder da Tribo de Jah e irmão de Pedro Beydoun (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/pedro-beydoun), João ganhou experiência nos palcos acompanhando a banda.
Com apenas nove anos de idade, o cearense João Beydoun aprende a dedilhar o violão. Hoje, aos 20 anos, radicado em São Luís no Maranhão. Aos 17 anos, após um período da pandemia do covid-19, o jovem artista, de fato, passa a se envolver intimamente com a música. Em 2021, João Beydoun lança seu primeiro som, “Irie”, e assim, começa a sua carreira musical.
Chamado de Magnatinha, em referência ao magnata Fauzi Beydoun, João Beydoun inicia sua trajetória com uma grande responsabilidade. Diante de uma era em que poucos jovens artistas surgem no cenário do reggae, João aceita o desafio de manter a chama do estilo acesa.
Apreciador de vários ritmos, que vão do reggae ao forró, passando pelo jazz, bossa nova e MPB, João Beydoun, procura trazer para suas composições um estilo próprio. Sendo o reggae roots sua raiz mais forte, João compõe suas canções muito inspirado por sua essência, procurando também imprimir elementos atuais que reflitam sua autenticidade dentro do gênero. Entre suas referências: Tribo de Jah, The Gladiators, Bob Marley and The Wailers, Dennis Brown, Gregory Isaacs, Steel Pulse, Aswad.
Outros singles de destaque são “Essa Onda” e “Jah é a Luz”. composições de João Beydoun com feedback muito positivo do público. João ainda participa de “Bora Chamegar”, em que canta a convite de Fauzi e faz parte do álbum “Revolvendo as Raizes”, da Tribo de Jah. Para 2025, o primeiro álbum autoral de João Beydoun está confirmado.
Segue abaixo entrevista exclusiva com João Beydoun para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 23/07/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
João Beydoun: Nasci no dia 10/07/2004 em Fortaleza – CE. Mas minha verdadeira raiz está em São Luís – MA, pois cheguei criança e me criei. Registrado como João Victor Lúcio Beydoun.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
João Beydoun: Meu primeiro contato com a música foi desde o berço, especificamente com o reggae. Desde bebezinho já ouvia o reggae tocar, muito por influência do meu pai (Fauzi Beydoun) e, também, de outras partes da minha família com meu tio (Arnaldo), que sempre foi regueiro. Já o meu primeiro contato com a música que pude me envolver mais profundamente tocando um instrumento foi aos 9 anos de idade, quando comecei a tocar violão.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
João Beydoun: Minha formação musical é autodidata, aprendi tocar contrabaixo, violão, guitarra, bateria e teclado, mas não estudei em escola de música, nem curso particular. Sempre fui aprendendo por conta própria, indo atrás, pesquisando, e, claro, tentando extrair ensinamentos musicais das pessoas que eu tive oportunidade. Sempre fui rodeado de músicos maravilhosos, o que é determinante. Eu tento extrair ao máximo. Além da música, também sou estudante no curso de Comunicação Social – Rádio e TV da UFMA (Universidade Federal do Maranhão).
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
João Beydoun: Às vezes brincam comigo e me chamam de “menino velho”, pelo fato de eu ter muitas referências musicais do passado. Coisas que pouco são escutadas nos dias de hoje. Mas também gosto de me atualizar, de ver o que tá rolando na cena, tem muita coisa boa.
Falando sobre a minha influência principal… Acho que não tem como fugir, né? Meu pai (Fauzi Beydoun), sempre vai ser minha maior referência. Tem toda a vivência que temos juntos e a admiração como filho. Mas não só isso… As mensagens que ele transmite através das suas canções, as vidas que ele transformou, as almas que ele conseguiu alcançar… Isso pra mim é o que se tem de mais valioso na música. Já perdi a conta da quantidade de fãs que se emocionam ao falar ele. Falando sobre como ele mudou a vida deles, depoimentos emocionais, de transformações pessoais, pessoas que saíram de um estado de depressão e ansiedade, é muito forte. Então meu pai e a banda Tribo de Jah sempre serão minha maior influência.
Já nas outras influências, tenho diversas: Bob Marley and The Wailers é uma que não pode faltar. São a base de tudo. Gosto muito do Steel Pulse, Djavan, Milton Nascimento, Jorge Benjor. Atualmente gosto muito da nova geração jamaicana que traz um reggae diferente: Chronixx, Protoje, Samory I, Mortimer, etc.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
João Beydoun: Em 2020, comecei minha carreira musical com 16 anos, quando fui pro estúdio gravar minha primeira música. Que foi lançada quando eu já tinha 17 anos.
06) RM: Quantos álbuns lançados?
João Beydoun: Em 2021, lancei o EP – Irie, com quatro músicas de minha autoria: Irie; Todo Meu Amor; Só Eu e Jah; União. E mais 3 singles. Em 2025, lançarei meu primeiro álbum com 10 música, será meu primeiro trabalho mais maduro.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
João Beydoun: Meu estilo é o reggae. Sempre vai ser. Meu objetivo é levar uma música de mensagem para as pessoas. Uma mensagem com um conteúdo positivo, que vai acrescentar algo de bom nas vidas das pessoas que escutarem. Canções de reflexão e de mensagens espirituais. Claro que também tem as canções românticas. O reggae é muito diverso. Mas ele sempre leva uma mensagem positiva consigo.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
João Beydoun: Quando comecei na música, eu entrei sem saber de nada na parte de técnica vocal. Nunca tinha feito uma aula de canto, nem sequer fiz terapia com fonoaudiólogo. A música começou a me puxar cada vez mais para essa vida e, naturalmente, tive que procura assistência de fonoaudiólogos e instrutores vocais. Hoje eu me preocupo muito mais em cuidar da minha voz e estar sempre aprendendo e melhorando nas técnicas vocais. É algo fundamental. E a gente nunca para de aprender.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
João Beydoun: Estudo de técnica vocal é de extrema importância para nós cantores. Você começa a descobrir os caminhos que percorrerá ao cantar e o que encaixa melhor para sua voz. Consegue executar o que quiser com as técnicas adequadas, sem falar dos cuidados vocais que são necessários. Não é fácil aguentar cantar um show de duas horas, várias vezes na mesma semana. Tem que se cuidar, saber como se cuidar. Senão for assim, pode-se criar um problema maior.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
João Beydoun: No ramo do reggae, tenho meu grande ídolo Dennis Brown, um exímio cantor, magnífico. Ele é minha grande referência no canto. Mas admiro muitos outros. No Brasil, um cara que me encanta muito é o Ferrugem, sou muito fã dele cantando.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
João Beydoun: É meio diverso. Às vezes a canção surge de uma melodia e aí depois eu procuro a letra. Ou então, a canção já surge de uma vontade ou necessidade de falar sobre alguma coisa. E aí eu procuro uma melodia boa para encaixar com a pegada da mensagem. Tem esses dois caminhos.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
João Beydoun: Não tenho “parceiros de composição”. Eu tenho um grande compositor em casa, que é meu pai (Fauzi Beydoun), e em alguns casos ele dá uma ajuda em alguma coisa que podia melhorar.
13) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
João Beydoun: Dentre os prós, tem a parte que você não fica preso a alguém, né? Você fica livre pra criar o que quiser, da forma que quiser. Mas em contrapartida você tem que investir com dinheiro do próprio bolso. Essa é a parte ruim. Principalmente pra quem ainda não tem uma agenda cheia de shows para bancar esses investimentos. É muito caro gravar uma música, fazer um clipe e fazer um lançamento com assessoria de imprensa, etc.
14) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
João Beydoun: Dentro do palco o objetivo é sempre melhorar e entregar um show cada vez melhor para o público. Sou fascinado nisso. Já fora do palco, é gravar novas canções e tentar levar minha música para o maior número de pessoas possível.
15) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
João Beydoun: Nunca pensei muito nessa parte. Mas sempre tive vontade de criar uma marca de roupas e acessórios de reggae. Talvez possa fazer mais na frente.
16) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
João Beydoun: A internet ajuda na parte de que você pode postar o que quiser, na hora que quiser, sem depender de ninguém para mostrar seu trabalho nesse espaço virtual. Mas o artista tem que competir com um bombardeio midiático que acontece todos os dias nessas redes sociais. É muita informação, é muito vídeo, muito conteúdo, o artista tem que criar coisas novas o tempo todo para ficar aparecendo sempre e não ser esquecido. A música não é isso. A música não é assim.
17) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
João Beydoun: A facilidade e a praticidade sempre são bem vindas, mas nem sempre conseguimos a qualidade que almejamos.
18) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
João Beydoun: O mais importante é ser original. Eu gosto muito do que é original e creio que o público também gosta muito disso. As pessoas percebem quando você é o original ou não. Quando você apenas está surfando uma onda ou quando você está na luta pelas suas convicções. Creio que esse seja o diferencial para se destacar nesse ambiente tão conturbado. Mas a gente não pode se ausentar de aparecer nas redes sociais, isso é um trabalho, só temos que pensar em ser originais na hora de aparecer.
19) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
João Beydoun: A banda de reggae Steel Pulse. Que se formou em 1975, até hoje faz shows, e sempre se preocupa em ensaiar diferentes tipos de shows, trazendo novidades, qualidade e excelência na hora de se apresentar.
20) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
João Beydoun: Uma vez, justamente por falta de cuidados vocais, acabei ficando rouco e tinha que me apresentar num show. Foi um sufoco, tentei ao máximo me cuidar às pressas, no começo do show tinha um pouco de voz e depois, no final, já estava completamente sem voz. Foi angustiante.
21) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
João Beydoun: O que me deixa mais feliz é quando alguém vem falar comigo sobre como as minhas músicas impactaram positivamente as suas vidas. Isso não tem preço. Não tem dinheiro no mundo que pague isso. O que me deixa mais triste é a parte da desvalorização do trabalho artístico. Pela parte do público, mas muito mais pela parte governamental.
22) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
João Beydoun: Bem difícil. Se for em rádio pequenas ou comunitárias pode tocar sem pagar o jabá.
23) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
João Beydoun: O foco e a persistência superam o talento. Então foque nas coisas que você precisa fazer para alcançar seus objetivos na música. Só o talento hoje não basta. Tem que entender o jogo, como funciona o mercado, tem que se dedicar.
24) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
João Beydoun: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é um grande monopólio, né? Quem tem mais dinheiro é quem mais vai conseguir mídia pras suas canções. É difícil competir contra grande empresários. Mas hoje, com a internet, temos alguns fenômenos que surgem sem explicação, alguns cantores que despontam sem um apoio da grande mídia. Isso é o grande lance da internet.
25) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
João Beydoun: Acho magnífico essas empresas. É um espaço a mais que temos, né? Todo espaço é bem vindo para os artistas que querem se apresentar.
26) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
João Beydoun: Eu tento não ser pessimista. Mas conversando com algumas pessoas importante do reggae nacional, percebemos que o reggae passou um período em baixa, as grandes e renomadas bandas são as mesmas em todos os festivais, com mérito claro, mas o grande ponto é o surgimento de novos nomes, novas bandas de qualidade. Mas acho que isso vem mudando aos poucos. Estou vendo uma nova cena reggae chegando e fico muito feliz. Tudo que ajuda a espalhar o movimento reggae é bom para todos.
27) RM: Você é Rastafári?
João Beydoun: Não. Mas respeito veemente a religião e a cultura Rastafári. Inclusive admiro, respeito e sigo muitos ensinamentos dela.
28) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa tal afirmação?
João Beydoun: Não gosto muito de me envolver nesses assuntos sobre religião e convicções. Mas na própria Jamaica há cantores de reggae que são cristões, poderia citar vários nomes. Mesmo na Jamaica o reggae não é só feito pelos rastafáris.
29) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
João Beydoun: Não sei te responder. Mas acho que ainda somos um país com muitos preconceitos, muitas barreiras com estereótipos a serem quebrados.
30) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System?
João Beydoun: Eu tenho muito respeito pelo formato Sound System. É uma cultura, um jeito de fazer reggae. Não gosto muito dessas segregações. Vai muito de cada um, do jeito de expressar a sua musicalidade. Com uma banda no palco, eu sinto uma energia diferente, tem uma vibração em conjunto. Estamos fazendo música, todos, não só eu. No Sound System você tem muita praticidade de não precisar de uma banda, você pode viajar e tocar em vários locais sem precisar ensaiar com várias bandas, ou passar por uma dor de cabeça. Sem falar da parte das rimas, né? É uma forma de expressar o que você tá sentindo ali no momento, solta uma base e o cantor vai rimando, cantando melodias conforme o momento.
31) RM: Quais as diferenças de se apresentar com banda em relação ao formato com Sound System?
João Beydoun: Como falei na pergunta anterior, vai da musicalidade de cada um, eu sinto muita falta de pessoas vibrando e fazendo música comigo em cima do palco. Acho que essa é a grande diferença.
32) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae e o uso da maconha?
João Beydoun: Vem muito da religião rastafári. Que não tem como separar do reggae. Pra eles, a canabis sativa é uma erva medicinal e espiritual. Isso foi muito propagado pelos rastas. É uma associação normal. O problema é o preconceito que vem junto a essa associação.
33) RM : Como você analisa a relação que se faz do reggae com a cultura Rastafári?
João Beydoun: Absolutamente normal. Foi de onde tudo surgiu. Mas nem todo regueiro é rastafári.
34) RM: Quais os seus projetos futuros?
João Beydoun: Em 2025, gravar o meu primeiro álbum.
37) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
João Beydoun: Contato para shows: (11) 99214 – 0680 | https://www.instagram.com/joaobeydoun
Canal: https://www.youtube.com/@joaobeydoun
Essa Onda – João Beydoun (Clipe Oficial): https://www.youtube.com/watch?v=MDuK4uIWOrU
Jah é a Luz – João Beydoun: https://www.youtube.com/watch?v=M8F6e5WjFMg
Irie – João Beydoun (Clipe Oficial): https://www.youtube.com/watch?v=Q9RmBJKCiHM
Todo Meu Amor – João Beydoun (Lyric Video): https://www.youtube.com/watch?v=VnyVJfqp1wQ
Só Eu e Jah – João Beydoun (Áudio Oficial): https://www.youtube.com/watch?v=sV28y-8R6Sk
União – João Beydoun (Áudio Oficial) https://www.youtube.com/watch?v=8GEnkKhHnIE
Sempre bom conhecer um artista autodidata que possui composições com estilo próprio. Ótima entrevista!
Entrevista maravilhosa, gostosa de ler a única parte ruim é que acaba, parabéns.