Sonhos, verdades e canções pontuam “CADA VERDADE QUE EU SONHAR”, segundo álbum do cantor, compositor e instrumentista DECO FIORI. Nas dez faixas, todas autorais, as influências pop de Beatles, MPB e Clube da Esquina, novamente sob a batuta do produtor e diretor musical Marcílio Figueiró, abrem espaço para outros sonhos ao repetir a vitoriosa parceria do álbum anterior, Luz da Criação, de 2024. Lançamento do selo Clube Novo.
Se Lô Borges e Ronaldo Bastos – duas das maiores referências do artista – um dia traçaram seu sonho real, Deco Fiori renova esperanças e aspirações, atento às contradições do mundo contemporâneo, “pelos gritos roucos e revolucionários” de quem sonhou demais, sem perder o tom da ternura. É o que explicita já na faixa-título “Cada Verdade Que Eu Sonhar”, uma balada certeira onde questionamentos existenciais se amalgamam aos ideais sociais e políticos, premidos pela urgência da maturidade que bate à porta. Um artista possui seu próprio relógio criativo-biológico:
- É a faixa que abre e dá nome ao álbum. Começa com o verso ‘não sei pra onde vou / mas não me desespero / só quero que passe devagar’. Eu, como ateu, que não acredito em nada específico, faço uma colocação do tipo não sei o que vai acontecer, mas espero ficar um bom tempo por aqui. O segundo verso diz: ‘pra entender quem sou / busco na madrugada por cada verdade que sonhar’, o que representa o próprio ato de criar. É na madrugada que as inspirações vêm. No refrão eu digo: ‘nossa memória, nossa história não vai se apagar / não enquanto houver canções / inspirando gerações / a botar o mundo pra rodar’. Este é o legado do artista, é o que fica para as futuras gerações – vislumbra Deco Fiori.
A travessia segue por “Outras Paragens” onde “não falta coragem para entrar na roda e dançar”. Na estrada que bifurca vias de mãos múltiplas pelo GPS do Clube da Esquina, violões gitanos (de Marcílio Figueiró) enlouquecem madrugadas e amanhecem os corações, apoiados pelas congas de Fabiano Salek, o baixo acústico de Berval Moraes, o sax soprano de Daniel Garcia. Afinal, “só nos resta prosseguir viagem mesmo sem saber onde vai dar”.
“Toda e Qualquer Geração” compartilha ideais humanistas na contramão de um mundo repleto de amores líquidos e inteligências artificiais, pois que “não adianta trilhar um caminho pensando onde se quer chegar / sem considerar quem mais vai caminhar”. Oráculos de gerações diversas, antídotos das distopias contemporâneas, Beatles e Beach Boys reverberam nas entrelinhas da canção onde “bom é se importar com o bem estar de cada mortal”.
Tendo como norte a mensagem das tantas canções que nos formam a todos, é hora de voltar para casa em “O Meu Mundo Cabe em Meu Quintal”, com destaque para o solo de guitarra genuíno do Picasso Falso Gustavo Corsi e o trompete de José Arimatéa, para além das cercas que separam quintais. O piano acústico é do próprio Deco Fiori:
- Essa é a minha ‘Certas Canções’. Ela fala da importância das músicas que escutei na minha formação. Como diz o Milton Nascimento, ‘coração é o quintal da pessoa’. É onde guardamos as coisas que realmente importam.
“Folhas pelo chão” repisa o solo fértil da canção pop, de natureza sofisticada, pelas ramificações harmônicas das árvores genealógicas de Stevie Wonder ou Ivan Lins, onde “toda paz é breve / toda folha quando cai é leve”. Neste meio ambiente, e o reforço vocal de Sofia Jordão Caeiro e Mario Vitor, sabemos que “chão é pra pisar / porque voz é pra cantar ou pra se fazer compreender”.
Na justa medida da trilha pop, na balança onde se pesam influências tão diversas como Djavan e Pink Floyd, “Libra” busca o equilíbrio improvável ao fim das histórias de amor. “Pra que serve um coração que bate mas não vibra / pulsa e jamais desequilibra?”, indagam os versos novamente sustentados pelo trompete astrológico de José Arimatéa, os teclados de João Braga, a guitarra de Gustavo Corsi, o piano de Deco Fiori. No câmbio incerto da vida, a libra sempre é o coração.
Segue a viagem, “Pra Qualquer Lugar”, uma canção dedicada à companheira de estrada que, apoiada nas flautas de Andrea Ernst Dias, tem como ponto de partida a introdução com timbre de minimoog pilotado por João Braga. Porque “a gente não tem pressa” e sempre chega “a hora do mistério nos guiar”.
Diante de tal mistério, “como olhar as estrelas sem mirar no firmamento?”, indaga perplexo o artista em “Se Não Tenho Chão (Melhor Voar)”, uma toada romântica, tendo a separação como tema. Ecos de Toninho Horta e Pat Metheny permeiam o belo arranjo de Marcílio Figueiró, abrindo espaço para o voo fretless do baixo de Hugo Belfort e a bateria – com a precisão de um trem – de Elcio Cáfaro.
“Tão Iguais” tem participação super especial de Pedro Luís, que canta em dueto com Deco Fiori. Um pop/rock sobre as questões afetivas na era dos romances virtuais, pois enquanto “criamos numa tela realidades paralelas” é sempre bom ressaltar que “é nas ruas da cidade que a vida corre de verdade”.
O choque de realidade passa também por “Que Negócio é esse?”, composta em homenagem ao poeta Marcio Negócio, amigo de infância que partiu cedo demais. Tendo autores como Guinga e Dori Caymmi entre as referências, e o auxílio luxuoso da sanfona de Itamar Assieri e do bandolim de Luis Barcelos, a canção encerra o álbum deixando aquele gostinho de “que negócio é esse de apressar o fim?”. Melhor voltar ao início e embarcar novamente nos sonhos, verdades e canções de Deco Fiori. Texto de abertura de Julio Moura.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Deco Fiori para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 21/11/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Deco Fiori: Nasci no dia 24 de fevereiro de 1967 no Rio de Janeiro, dia em que os Beatles gravavam Lovely Rita pro Sgt Pepper’s. Registrado como Oswaldo Neto. Casei-me com Lia Jordão, com quem tive: Sofia e Danilo.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Deco Fiori: Meu irmão, João Braga, tocava piano (música erudita, inicialmente) desde que me entendo por gente… cresci com o som do piano da sala, e também tinha o som que se ouvia lá em casa (João Gilberto, Caetano, Chico, Elis, folk, Beatles, progressivo, Clube da Esquina, música instrumental…). E o João, pianista dos meus primeiros sons, hoje um super músico de jazz, samba-jazz, toca em nove das dez faixas do álbum “Cada Verdade Que Eu Sonhar”.
03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Deco Fiori: Sou formado em Educação Artística – licenciatura com habilitaçào em música (Unirio, 1993). Cursei um ano e meio do curso de cinema na UFF, mas abandonei pra seguir na música. Fora da universidade, estudei canto, violão clássico e popular, harmonia funcional… na faculdade, aulas de arranjo, percepção, harmonia análise… entre o popular e o erudito. Talvez a grande escola tenha sido os corais de que participei desde os meus 19 anos de idade.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Deco Fiori: Minhas principais influências sempre foram e continuam sendo Beatles e Clube da Esquina, não necessariamente nessa ordem. Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Bituca… sempre foram meus heróis, nunca deixaram de ser. Stevie Wonder me encantou pra sempre a partir de um pouco mais tarde… muita mpb (Chico, Tom, Gil, Caetano, Melodia, Joyce, Rita Lee)… grupos vocais desde Os Cariocas, Boca Livre, Take 6 revolucionou minha vida. Teve uma época, começando a fazer shows, em que me aproximei um pouco do pop-rock brasileiro… cheguei a querer compor coisas do gênero, mas não era muito a minha, e segui por outros rumos.
05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Deco Fiori: No dia em que completei 20 anos de idade (24/02/1987) eu fui buscar minha carteira da Ordem dos Músicos. Um ano antes, quando abandonei o curso de cinema pra ser um músico, fiz três movimentos importantes: fui aprender a ler música, entrei numa aula de canto e num coral. Acabei entrando na faculdade e, aos 21 anos (1988), fiz um concurso público que a prefeitura abriu pro Coral do Rio, com 40 cantoras e cantores selecionados, todos tinham que ler música. Regência do Marcos Leite (Garganta Profunda), coreografias do Claudio Gaya (Dzi Croquettes)… um emprego público, no começo da carreira, a melhor escola que eu poderia ter tido.
06) RM: Quantos álbuns lançados?
Deco Fiori: “Cada Verdade Que Eu Sonhar” é o meu segundo álbum autoral. O primeiro foi “Luz da Criação” lançado em janeiro de 2024, também pelo selo Clube Novo, com participacão de craques como Toninho Horta e Nivaldo Ornelas.
Mas isso foi uma retomada de uma carreira de compositor que eu tinha trocado lá no início dos anos 90 por uma incursão na música vocal, pela qual me apaixonei imediatamente ao ouvir o primeiro disco do Sexteto Take 6. Deixei as composições de lado e fui me aventurar em grupos vocais. O quarteto 3 Caciques e 1 Pajé (4 vozes e uma bateria!) fazia sucesso no meio universitário. Até que o grupo mudou a formação, mudou de nome e, já como VOX 4 lançou um CD pelo selo Cucamonga (da galera que mais tarde criaria o Bossa Cucanova), com o qual fomos indicados ao Prêmio Sharp de melhor grupo de MPB em 1997.
Anos mais tarde, integrei o sexteto vocal BR6, que cantava tudo a cappella, sem nenhum acompanhamento instrumental… fiquei no grupo durante toda sua existência, entre 2000 e 2014, como cantor e arranjador. Gravamos 4 discos, lançados no Brasil, Estados Unidos, Europa e Japão, e ganhamos 7 prêmios internacionais, além de irmos cantar no Japão, Alemanha, Bélgica, Áustria, Eslovênia e Ucrânia.
Houve ainda participações em cds como solista em projetos misturando bossa com Beatles, Michael Jackson e Stevie Wonder, um disco do coro e orquestra Brasil Barroco, dedicado ao repertório barroco mineiro do séc XVIII, e diversas participações como vocalista em discos de artistas como Erasmo Carlos, Moraes Moreira, Daniela Mercury, Toquinho, Carlos Lyra, Arthur Verocai, Cidade Negra, Marcelo Jeneci, Maria Bethânia e Zeca Pagodinho, entre outros…
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Deco Fiori: Me vejo como um discípulo dos músicos do Clube da Esquina, principalmente do Lô Borges e do Beto Guedes, que são os responsáveis maiores pelo lado Beatle da música mineira que já vinha do fim dos anos 60, mas explodiu de vez com o álbum Clube da Esquina, do Bituca e do Lô, em 1972.
Essa mistura me encanta… eles processaram esse mix de Beatles e progressivo com MPB, e eu acabo seguindo com a minha música pelo caminho que eles criaram, misturando com outras influências minhas,Tom, Chico, Stevie, Djavan, Gil, Caetano, Ivan Lins, Rita Lee… no fim das contas, meu estilo é a canção, valorizando melodia, harmonia, letra, tentando passear por ritmos por onde transito bem. Mas é isso: no fim das contas, a essência da minha música é a canção.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Deco Fiori: Estudei bastante técnica vocal. Tive alguns professores, sempre de canto popular, até ficar 11 anos seguidos com o Felipe Abreu, que me ensinou a cantar e também a dar aulas de canto, coisa que faço há mais de um quarto de século.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Deco Fiori: Há grandes cantores e cantoras que não estudaram canto, fato. Há, também, um mito, defendido por muitos (do qual discordo), de que o estudo de canto pode tirar a espontaneidade do cantor, da cantora. No meu caso, a importância é imensa. Veja bem… a técnica não pode ser um fim pra nenhum(a) cantor(a), mas um meio pra ele ou ela se comunicar e se expressar melhor através da sua música. Canções contam histórias, e vozes são, como impressões digitais, únicas.
O estudo da técnica vocal, que passa muito pelo auto-conhecimento, uma vez que o “instrumento musical” é o proprio corpo, ajuda muito no domínio desse “instrumento”, o que está diretamente ligado a vibrações, sensações. Entendendo essa voz (única), as histórias podem ser muito bem contadas. Mas isso tudo de nada adianta sem a tal da Verdade, com V maiúsculo, mesmo.
Estilos existem, mas as semelhanças não devem ser “pasteurizadas” a ponto de tirar a identidade vocal de um cantor ou cantora. Outro ponto importantíssimo é o papel da técnica (e de alguns bons hábitos) na preservação da saúde vocal, que acaba sendo o bem mais precioso que temos. Aí a questão é bem simples: quanto melhor for a minha saúde vocal, mais longa será a minha carreira (e também com mais qualidade vocal). Ninguém precisa ser santo, mas esse bem não pode ser negociável.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Deco Fiori: Gal Costa, Elis Regina, Maria Bethânia, Marisa Monte, Clementina, Leny Andrade, Aretha Franklin, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Sarah Vaughan, Janis Joplin, Mônica Salmaso, Dora Morelenbaum, Rosa Passos, Liniker, Alaíde Costa, Joyce, Carole King, Joss Stone, Amy Winehouse, Esperanza Spalding, Ângela Ro Ro…
11) RM: Como é seu processo de compor?
Deco Fiori: Geralmente a música vem antes da letra… às vezes, juntas. Ou parto de uma melodia que “aparece”, ou acho uma sequência de acordes… quando encontro a primeira ideia mais completa entro num processo meio compulsivo, podendo ficar horas ou dias trabalhando naquilo. O segredo, acho, acaba sendo o que me dá mais orgulho: a busca pela “nota perfeita”, pelo acorde, pelo verso… é a busca do belo, ou do visceral, ou do que é mais pessoal… que acaba sendo o compromisso do compositor com a sua criação. A relação é bonita e inquietante.
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Deco Fiori: Meus dois álbuns autorais têm 10 faixas cada, e essas 20 canções tem música e letra minhas, sem parceiros ou parceiras. Acabo criando parcerias nas outras fases do trabalho, nos ensaios pra um show, ou nas próprias gravações. Posso, então, dizer tranquilamente que meu grande parceiro é o Marcílio Figueiró, diretor musical e arranjador dos meus dois álbuns e dos meus shows. Agora, tenho um sonho de compor em parceria com meu ídolo e amigo Márcio Borges. Quem sabe…
13) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Deco Fiori: Só eu, mesmo. Espero que isso mude em breve… sou amigo de muitas ótimas cantoras e cantores… gostaria de vê-los e ouví-las cantando minhas canções. “Tão Iguais” é uma faixa desse novo álbum que divido com o Pedro Luís. Foi muito bacana ouvir versos meus entoados por ele.
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Deco Fiori: Simples. Prós: a liberdade de criar minha obra do jeito que eu bem entender. Contras: a falta de grana e uma visibilidade muito mais limitada.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Deco Fiori: Sou uma espécie de “operário da música”. Em quase 40 anos já dei aula, dirigi grupo, fiz preparação vocal, direção musical, arranjo, música, letra, cinema, teatro, tv, dublagem, show, grupo vocal, gravação… a estratégia é sobreviver. Equilibrar, dentro de uma vida inteiramente voltada pra música, as atividades que pagam as contas com os ônus e bônus de uma carreira de artista independente, com uns shows aqui, uma gravação acolá… no fim das contas, a gente ganha pouco, se diverte muito, e o saldo é positivo porque o coração precisa de arte.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Deco Fiori: Como essa persona de artista cantor/compositor é nova pra mim, tô engatinhando nisso… além desse equilíbrio de atividades mais e menos rentáveis (talvez nem tenha sido sobre isso a última pergunta), tô pretendendo me inscrever em editais e afins, pra viabilizar os shows que pretendo fazer pra lançar o álbum “Cada Verdade Que Eu Sonhar”.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Deco Fiori: Ajuda porque a comunicação com o público fica simples, com uma postagem ou anúncio de show ou lançamento, ou mesmo um vídeo tocando uma canção aleatórea, tudo pode atingir muita gente de uma só vez. O que pode acabar atrapalhando, talvez, é a questão do tal do algoritmo, cujo funcionamento nem sempre dá pra entender… e, claro, quem não está no “mainstream” acaba tendo menos alcance, porque o benefício é, em termos práticos, diretamente proporcional ao número de seguidores. A “competição”, como em tudo no sistema em que estamos inseridos, acaba sendo desigual.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Deco Fiori: A vantagem é o fato de que gravar um disco ficou muito mais acessível pra muito mais gente. Por exemplo, os quatro álbuns do grupo vocal BR6, que citei acima, foram gravados inteiramente em um “home estúdio”. Todos premiados. Isso era impensável décadas antes. A desvantagem, talvez, seja que, na maioria dos casos, o “home estúdio” pode não bastar. Se for preciso uma sala maior, por questões de ambiência ou mesmo pra possibilitar que os músicos gravem juntos, aí pode ser necessário um estúdio tradicional.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Deco Fiori: Simplesmente não penso em concorrência, em competição. Me interessa a frase melódica, o acorde demolidor, o verso arrebatador… a tal da Verdade. A grandeza tá aí. O meu “tamanho” no “mercado” eu procuro entender e tentar ir crescendo na medida do possível, tentando fazer minha música chegar a mais ouvidos e corações. Aí entram as redes, editais pra shows, etc…
20) RM: Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Deco Fiori: Não gosto daquela postura de dizer que não se faz mas música como antigamente… sempre se fez música boa e ruim, e, ambas, com ou sem sucesso. Em todos os segmentos, me parece que os mais oportunistas acabam ficando pelo caminho, e quem faz uma música mais verdadeira segue. Gosto muito de trabalhos atuais de gente como Liniker, Zé Ibarra e o pessoal do Bala Desejo, Tim Bernardes, Os Garotin… no meu nicho de música independente tem tanta gente boa, que levaria muito tempo fazendo uma lista (Andrea Dutra, Mari Jasca, Áurea Martins, só pra citar três gerações diferentes)… sobre os que regrediram, prefiro não citar, blz?
21) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?
Deco Fiori: Cantar e receber um ano depois. Isso aconteceu durante uma época em uma prestigiosa casa no Rio de Janeiro.
22) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Deco Fiori: Mais feliz: o bem que o fazer musical me faz. Mais triste: a batalha que se tem que travar pra “botar o bloco na rua”.
23) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Deco Fiori: Existe o dom. Mas existe o trabalho pra aprimorar e manter esse dom. E é nisso que nós musicistas temos que nos debruçar. Não tenho paciência pra divos e divas. Mas você se deixar levar pelo encanto de gênios como Milton Nascimento ou Stevie Wonder é lindo demais!
24) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Deco Fiori: Associo improvisação ao jazz, e associo jazz, histórica e musicalmente, à liberdade. O Hermeto dizia que músico bom não precisa ensaiar… é muito impressionante ver quando essa mágica acontece. Mas eu sou mais da turma que precisa muito dos ensaios e da preparação. Admiro muito, com uma inveja boa, que chega com seu instrumento e, em qualquer ocasião, sai arrasando, quebrando tudo!
25) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Deco Fiori: As duas coisas, eu acho. Acredito haver que estudou e aplica, e quem é totalmente intuitivo.
26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Deco Fiori: Como não é a minha praia, não sei responder.
27) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Deco Fiori: Acho que em todo tipo de conhecimento, os prós são o conhecimento em si, seja cultural, prático, técnico… e os contras são, a meu ver, musicistas, se fecharem num ciclo de conhecimento adquirido e ficarem presos a fórmulas. O conhecimento deve servir pra expandir os horizontes, não pra limitar. Agora… o estudo de harmonia é fascinante! Tive a sorte de estudar na escola do Ian Guest, e fui entendendo as progressões, tocando em vários tons, no violão e no piano… isso ne abriu um leque fantástico de possibilidades. E, é claro, quando você começa a entender as harmonias dos seus ídolos (Tom Jobim, Chico Buarque, Lô Borges, Milton Nascimento (Bituca), Toninho Horta, Stevie Wonder) a sua bagagem musical vai se ampliando…
28) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Deco Fiori: As poucas vezes que tive músicas minhas tocando em rádios, foram sem jabá. O jabá é uma prática abominável e antiética. Prefiro ficar longe dessa sujeira.
29) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Deco Fiori: Pratique, estude, ouça, leia e, principalnente, busque e faça a música que vem do coração.
30) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?
Deco Fiori: Prós: a reunião de músicos e gente que se relaciona com música. Contras: a competição. Pra que tentar superar ou ser melhor que um(a) colega de profissão? Essa lógica, pra mim não serve.
31) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Deco Fiori: A grande mídia cobre o “mainstream”. Garimpa as pepitas de ouro e deixa a água escorrer pela peneira… pra viver, precisamos de água, não de ouro.
32) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Deco Fiori: Esses espaços são sempre bem-vindos! É aí que nós, da cena independente, temos que procurar espaço pra mostrar a nossa música.
33) RM: Quais seus projetos futuros?
Deco Fiori: Fazer shows e mostrar as canções do álbum “Cada Verdade Que Eu Sonhar” por aí…
34) RM: Quais seus contatos?
Deco Fiori: [email protected] | https://www.instagram.com/decofiori.oficial
Canal: https://www.youtube.com/@decofiori2984
Ouça aqui “CADA VERDADE QUE EU SONHAR”: https://found.ee/decocadaverdade
Assessoria de Imprensa – Ana Paula Romeiro
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