A banda maranhense Tribo de Jah foi formada em 1985, em São Luís do Maranhão, a partir da união de cinco músicos deficientes visuais que se conheceram na Escola de Cego do Maranhão: Zé Orlando (cantor e percussionista), Frazão (tecladista), Aquiles Rabelo (baixista), Netto Enes (guitarrista solo), João Rodrigues (baterista). Entre 1984 e 1985, eles se apresentavam em clubes como músicos da banda Reflexo, de propriedade do empresário e sargento da Polícia Militar, Marinho.
Em 1985, sargento Marinho vendeu os equipamentos de som e os instrumentos para o cantor, compositor, guitarrista base e radialista paulista Fauzi Beydoun. Fauzi ao perceber que os músicos ficariam sem trabalho convidou-os para continuarem tocando como banda Reflexo (sob administração do Zé Orlando – https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/banda-pedra-rara) e formarem uma banda para tocar clássicos do reggae e músicas autorais. O primeiro nome da banda foi Kartaz, em 1986, Fauzi mudou o nome para Tribo de Jah. Fauzi além de cantor, compositor, guitarra base, também atuava no dia a dia buscando espaço para shows como uma banda de reggae e divulgando a banda nos meios de comunicação do Maranhão.
Fauzi Beydoun, mentor intelectual e financeiro da Tribo de Jah nasceu no dia 24 de setembro de 1958 em Assis- SP, filho de italianos com libaneses, admirador da cultura reggae, chegou a São Luís – MA nos anos 80 quando o reggae já era um gênero musical efervescente na “Ilha do Amor”, a Jamaica Brasileira, por conta dos espaços que tocavam reggae jamaicano com DJ a frente das Radiolas.
Os discos de reggae jamaicano chegaram na década de 1970 ao porto de São Luís vindo de Belém do Pará ou direto do Caribe e ganhou a preferência nos guetos da cidade, depois se propagou nas cidades do interior do Estado e até nos Estados vizinhos. O reggae marcou profundamente a cultura maranhense.
Na década 1970, surgiram os clubes de reggae com as suas “Radiolas”: potentes equipamentos de som que tocavam os discos e divulgava o reggae jamaicano que não tocava nas Rádios, o que motivou o surgimento de diversos programas de Reggae nas Rádios em busca da audiência dos ouvintes que frequentavam os clubes. Fauzi atuava como radialista no programa Rádio Reggae Mirante da rádio Mirante FM de São Luís.
A Tribo de Jah colocou o pé na estrada com seu reggae roots/raiz com mensagens de amor, paz, temática social e espiritual. O conteúdo das letras de Fauzi pode ter afastado a banda das grandes gravadoras e da grande mídia, mas não impediu a banda se torna conhecida nacionalmente nos anos 90 e com prestígio internacional.
A banda seguiu fazendo shows por cidades do interior e algumas capitais do Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e divulgando seus álbuns. No final dos anos 90 os músicos fixaram residência em Guarulhos – SP para facilitar o deslocamento em shows nas cidades do Sudeste, Centro-Oeste, Sul e fora do Brasil: Buenos Aires– Argentina, Caiena – Guiana Francesa, França, Itália. Em 1995, se apresentou no principal palco do reggae mundial: Reggae Sunsplash Festival, em Ocho Ríos na Jamaica.
Lançaram os álbuns: Regueiros Guerreiros (1992 – LP); Roots Reggae (1995); Ruínas da Babilônia (1996), Reggae’n Blues (solo de Fauzi Beydoun em 1997 gravado na Jamaica com músicos jamaicanos famosos); Reggae na Estrada (1998); 2000 Anos Ao Vivo (1999); Além do Véu de Maya (2000); Essencial (2001); Tributo A Bob Marley (2001); Ao Vivo 15 Anos (2002); Guerreiros da Tribo (2003); In Version (2004), The Babylon Inside (2006); Love to the World, Peace to the People (2007); Refazendo (2008); DVD Live in Amazon (2009); Pedra de Salão (2014); Confissões de Um Velho Regueiro (2016), Até Que o Bem Triunfe no Final (2021). As mensagens das letras mantiveram uma coerência sociológica se distanciando do senso comum panfletário da maioria das letras de outros compositores de reggae.
A sonoridade da Tribo de Jah não mudou essencialmente uma vírgula da proposta de fazer um trabalho autoral mantendo os clichês do reggae roots jamaicano que proporciona o dançar agarradinho; uns acham bom e outros acham ruim essa opção em não buscar inovar na sonoridade em um novo álbum. E a interpretação do Fauzi se cristalizou na estética do canto falado sem muitas variações melódicas nem exploração da sua extensão vocal: grave, médio e agudo.
Uns acham um mantra mágico e outros acham monótono. Os músicos como instrumentistas seguem a regra o menos é mais, com exceção do ex tecladista Frazão que dividia a função de base e arranjador.
Zé Orlando; que acompanhou a banda por 23 anos (1986 a 2009), é um intérprete versátil que explora as suas possibilidades vocais e de idiomas com um carisma de palco com alto astral, experiência trazida de sua atuação em banda de baile que cantava vários ritmos musicais na mesma apresentação.
Os músicos bem que tentaram convencer Fauzi em buscar novas timbragens para os arranjos baseados na influência dos regueiros pós anos 60,70, trazer uma estética musical mais contemporânea se aproximando da vertente new roots e incorporando elementos da música brasileira, mas a última palavra é do Fauzi.
Em 2009, Zé Orlando não tendo a aprovação do Fauzi para manter um projeto musical paralelo ao da Tribo de Jah, saiu da banda e formou a banda Pedra Rara. Em 2015, Frazão deixou a banda e voltou morar em São Luís e atuar como tecladista freelancer para bandas, artistas locais, inclusive, em show da Tribo de Jah. Pedro, filho do Fauzi, entrou na banda, após a saída de Zé Orlando, como guitarrista base e vocal, mas tem sua carreira solo paralela (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/pedro-beydoun). A banda passou a ter tecladista freelancer. O filho mais novo do Fauzi, João Beydoun (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/joao-beydoun) trilha sua carreira solo.
Em 2026, a banda celebrar 40 anos, no qual Fauzi mantém o seu lado produtivo como compositor. Ao contrário de bandas ou artistas que vivem décadas fazendo shows com os sucessos dos primeiros álbuns sem se arriscar em gravar um novo álbum, a Tribo de Jah optou por um caminho oposto, mesmo que as novas gravações se pareçam muito com as anteriores.
A cena e a sonoridade do reggae nacional e internacional já mudaram muito no quesito composições, arranjos e produção do que era feito nos anos 60, 70 e 80. Mas a Tribo de Jah já tem o seu lugar na galeria dos clássicos do reggae nacional, mas sem fôlego para mudanças e continua no mesmo “Cantar do Galo”. Esteticamente não é um erro a opção de déjà vu na obra, mas será que haverá renovação do seu público? A zona de conforto pode ser um purgatório.
A Tribo de Jah diminuiu o ritmo de show, os jovens músicos de ontem, hoje, são senhores da terceira idade. Pedro será o herdeiro do pai na função de cantor e guitarrista da banda cantando as composições do pai, quando esse não tiver mais na banda? Fauzi deixará a função de regueiro para assumir a função de Magnata da banda? São perguntas que o tempo responderá. O Fato é que a Tribo de Jah deixou seu legado para o reggae nacional (https://ritmomelodia.mus.br/entrevistas/tribo-de-jah).
Valeu, sucesso. http://www.autores.ning.com
Tribo de Jah dispensa comentários, mas foi citada com todo reconhecimento que merece pela Ritmo e Melodia. Muito bom!