A banda maranhense Tribo de Jah chegou aos 30 anos de carreira em 2016. A vida e obra da Tribo de Jah, começa nos anos 80 em São Luís do Maranhão quando cinco músicos deficientes visuais que se conheceram na Escola de Cego do Maranhão: Zé Orlando – cantor e percussionista, Frazão (Francisco Guilherme) – tecladista, Aquiles Rabelo –baixista, Netto Enes (Alexsandro) – guitarrista, Joãzinho (João Rodrigues) e se apresentavam nos anos 80 nos clubes como a banda de baile Reflexo mantida pelo empresário e sargento da Polícia Militar Marinho, quando em 1986 passaram acompanhar o cantor, compositor e radialista Fauzi Beydoun que comprou os equipamentos de som para show do sargento Marinho e convidou os músicos para serem a sua banda que tocaria exclusivamente reggae. O primeiro nome da banda foi Kartaz, mas com esse nome quase não fez show, um ano depois, Fauzi mudou o nome para Tribo de Jah.
Mesmo usando o nome de banda a relação profissional de Fauzi com os membros da Tribo de Jah sempre foi de um empresário com músicos contratado. No qual Fauzi além de cantor e compositor atua no dia a dia buscando espaço para show e divulgando a banda nos meios de comunicação.
O cachê que banda recebe é 50% para Fauzi e 50% dividido em partes iguais com os outros músicos. Demorou um tempo para quem acompanha a trajetória da banda entender essa relação profissional. Já que algumas bandas dividiam despesas e lucro por igual entre os músicos. Na prática é Fauzi Beydoun acompanhado pela Tribo de Jah.
Fauzi Beydoun, mentor intelectual e financeiro da Tribo de Jah é um paulista nascido em 04 de setembro de 1958 na cidade de Assis- SP, filho de italianos com libaneses, admirador da cultura reggae, chegou a São Luís – MA nos anos 80 quando o reggae já era um gênero musical efervescente na Ilha. Um fenômeno em terra brasileira.
Os discos de reggae jamaicano chegaram na década de 1970 ao porto de São Luís vindo de Belém do Pará ou direto do Caribe e ganhou a preferência nos guetos da cidade, depois se propagou nas cidades do interior do Estado e até nos Estados vizinhos. O reggae marcou profundamente a cultura maranhense e São Luís se tornou conhecida como a “JAMAICA BRASILEIRA”.
Na década 1970 surgiram os clubes de reggae com as suas “Radiolas”: potentes equipamentos de som que tocavam os discos e divulgava o reggae jamaicano que não tocava nas Rádios, o que motivou o surgimento de diversos programas de Reggae nas Rádios em busca da audiência dos ouvintes que freqüentavam os clubes.
Neste cenário a Tribo de Jah colocou o pé na estrada para difundir o seu reggae roots/raiz com suas mensagens de amor, paz, temática social e divina. O conteúdo de suas letras afastou a banda das grandes Gravadoras, das FMs, da TV, dos Jornais e Revistas.
Mas de forma independente a banda foi fazendo os seus shows por cidades do interior e algumas capitais do Norte e Nordeste e divulgando seus discos. No final dos anos 90 já morando na cidade de Guarulhos – SP começou a fazer shows no Sudeste, Centro-Oeste, Sul e fora do Brasil: Buenos Aires– Argentina, Caiena – Guiana Francesa, França, Itália. Em 1995 pisou principal palco do reggae mundial: REGGAE SUNSPLASH FESTIVAL – JAMAICA.
São dezoito álbuns lançados, sendo doze com músicas inéditas e dois solos do Fauzi Beydoun e quatro com as músicas mais conhecidas da banda e dois DVD. As mensagens das letras mantiveram uma coerência sociológica se distanciando do senso comum panfletário da maioria das letras de outros compositores de reggae.
Sonoridade da Tribo de Jah
E a sonoridade da Tribo de Jah não mudou essencialmente uma vírgula da proposta de fazer um trabalho autoral mantendo os clichês do reggae roots jamaicano que proporciona o dançar agarradinho; uns acham bom e outros acham ruim essa opção em não buscar inovar na sonoridade um novo álbum. E a interpretação do Fauzi se cristalizou na estética do canto falado sem muitas variações melódicas nem exploração da sua extensão vocal: grave, médio e agudo.
Uns acham um mantra mágico e outros acham monótono. Os músicos como instrumentistas seguem a regra o menos é mais, com exceção do Tecladista Frazão que divide a função de base e arranjador. Zé Orlando; que acompanhou a banda por 23 anos, é um interprete versátil que explora as suas possibilidades vocais e de idiomas e tem um alto astral, carisma no palco adquirido por sua experiência como cantor de banda de baile que cantava alguns gêneros músicas no mesmo show.
Os músicos bem que tentaram convencer o Fauzi em buscar novas timbragens para os arranjos baseados na influência dos regueiros pós anos 60,70 e trazer uma estética musical mais contemporânea se aproximando do new roots e incorporando elementos da música brasileira, mas a última palavra é sempre do Fauzi.
Em 2009 Zé Orlando não tendo a aprovação do Fauzi para manter um projeto musical paralelo ao da Tribo de Jah, saiu da banda e formou a Pedra Rara no qual lançou o primeiro álbum dos doze que pretende lançar. Em 2015 Frazão deixou a banda para casar e voltar a morar em São Luís e atuar como Tecladista freelancer para bandas e artistas locais. O Filho do Fauzi, Pedro Beydoun entra na banda como guitarrista e vocal. E Bives é o atual Tecladista.
30 anos em 2016
Para celebrar os 30 anos em 2016 a Tribo de Jah lançou o álbum – Confissões de um Velho Regueiro com 17 músicas inéditas, no qual Fauzi mantém o seu lado produtivo como compositor. Esse disco pode ser ouvido como uma breve autobiografia da visão de mundo e de uma carreira musical pela visão do Fauzi. Ao contrário de bandas ou artistas que vivem décadas fazendo show com os sucessos dos primeiros discos sem se arriscar em gravar um disco novo a Tribo de Jah optou por um caminho oposto, mesmo que as novas gravações se pareçam muito com as anteriores.
Um autoplágio. A cena e a sonoridade do reggae nacional e internacional já mudaram muito no quesito composições, arranjos e produção do que era feito nos anos 60, 70 e 80. A Tribo de Jah já tem o seu lugar na galeria dos clássicos do reggae nacional, mas terá fôlego para continuar no mesmo “Cantar do Galo” em que o novo álbum tenha o cheiro do passado? Esteticamente não é um erro a opção de déjà vu na obra, mas não haverá uma renovação do seu público. A zona de conforto pode ser um purgatório.
A Tribo de Jah já vem diminuindo o ritmo de show, os jovens de ontem estão entrando na terceira idade hoje. Fauzi gravará músicas de outros compositores? O Pedro será o herdeiro do pai na função de cantor e guitarrista cantando as composições do pai ou de outros compositores? Da mesma forma que o Frazão pediu para sair Aquiles, Netto e Joãozinho pediram? Fauzi deixará a função de regueiro para assumir a função de Magnata da banda? São perguntas que um dia o tempo responderá.
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