O letrista e escritor Chaul, é professor aposentado da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás, Doutor em História Social pela USP.
Gestor Cultural, Compositor, membro da União Brasileira de Escritores-UBE/GO, Sócio Emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, ocupante da cadeira no.03 da Academia Goiana de Letras – AGL.
Assessor Cultural l do TRE-GO, autor de diversos livros sobre a História de Goiás, entre eles, Caminhos de Goiás: da Construção da Decadência aos Limites da Modernidade. 5a. Edição, Cegraf, UFG.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Chaul para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 19/12/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e sua cidade natal?
Chaul: Nasci no dia 30/05/1957 no Catalão – Goiás. Registrado como Nasr Fayad Chaul.
02) RM: Quais as suas preferências musicais? Quais deixaram de ter importância?
Chaul: MPB. O rock deixou de ter importância.
03) RM: Qual a sua formação acadêmica?
Chaul: Sou Professor Aposentado da Universidade Federal de Goiás, Mestre em História pela UFG e Doutor em História Social pela USP. Sou Também Bacharel em Direito.
04) RM: Como e quando você começou a sua atividade de letrista em parceria com compositores? Quais são os seus parceiros musicais?
Chaul: Desde 1975, em Goiânia – GO. João Caetano, Écio Duarte, Fernando Perillo, Bororó, Ricardo Leão, Marcelo Barra, Juraíldes da Cruz, Genésio Tocantins, Nilo Alves, Gustavo Veiga, Pádua, Celso Galvão…
05) RM: Você escolhe sistematicamente quem será o seu parceiro musical ou deixa acontecer espontaneamente?
Chaul: Na maioria das Letras, a música vem primeiro. Quando faço sem melodia, encaminho ao parceiro que sinto mais adequado àquela canção.
06) RM: No processo da parceria na criação da canção, você envia a letra/poema para o compositor para ele colocar a melodia? Você coloca letra em melodia que o compositor envia para você?
Chaul: Como eu disse, 90% das vezes a música me chega primeiro. Quando faço a letra sem música, invento uma melodia para adequar a letra e encaminho ao parceiro que mais intimidade tem com o tema escrito.
07) RM: Você permite o compositor alterar a sua letra?
Chaul: Sim. Acho que a letra deve ficar boa para o músico cantar. Não tenho problemas em acatar sugestões ou pedidos para alterar partes. Não sou músico, mas palpito também em algumas melodias, me acho musical.
08) RM: Cite as principais canções que você é o autor da letra e quem já gravou?
Chaul: Saudade Brejeira (José Eduardo Moraes / Chaul), gravada por Marcelo Barra, com mais de 20 gravações, inclusive Caetano Veloso na trilha sonora do filme 2 Filhos de Francisco. Fado de Vila Boa (Pádua / Chaul), O Outro Lado da Lua (Fernando Perillo / Chaul), Coração Retirante (Gustavo Veiga / Brandão / Chaul), Escrituras (Écio Duarte / Adélia Prado / Chaul). Capim Cheiroso (Juraildes da Cruz / Écio Duarte / Chaul).
09) RM: Alguns compositores já declaram o fim da canção. Qual a sua opinião sobre essa afirmação?
Chaul: Não tem como ar finitude a algo que vem do coração e da inspiração dos Sapiens.
10) RM: Hoje ainda existe espaço e ouvinte para música com letra que se sustenta como um poema/poesia?
Chaul: Acho que, cada vez mais, a letra comunica a contemporaneidade. Distingo letra de poesia. Acho que são concepções diferentes. A letra carrega uma melodia à qual você tem que entender o significado. A poesia é livro. A letra tem começo e fim, você pode ou não rimar as palavras. Você aborda um tema, às vezes pessoal, mas precisa ser universalizado. Penso que, hoje em dia, a letra comunica muito a mensagem e as pessoas gostam de coisas boas.
11) RM: Na Rádio e na TV o autor da música quase não é informado. Quem canta passa a ser “o autor” da canção. Esse fato te incomoda?
Chaul: Em 50 Anos convivendo com isso, já me acostumei. Mas é muito ruim não ter os créditos do que você faz. Escrevi, neste ano, O Letrista. No Livro conto as histórias de diversas canções, como foram concebidas e procuro mostrar a importância do compositor letrista. Ajuda, mas não resolve. O intérprete tem sempre a primazia.
12) RM: Você tem músicas que tocaram e tocam em Rádio, TV e em casa de show? O direito autoral é pago corretamente?
Chaul: Direito Autoral é sempre a mesma lástima. Com Saudade Brejeira no Filme 2 Filhos de Francisco, teve uma demanda com TV e Rádio. Depois foi pago atrasado, mas corretamente. Tive Retratos do Brasil (João Caetano / Chaul) que abriu a novela Bicho do Mato da Record, interpretada por Sérgio Reis. Foi pago corretamente.
O resto pinga mensalmente pois todas as minhas letras são editadas na ABRAMUS. Eles coordenam essa parte. Nos shows é feito o ECAD. Já tive música indicada duas vezes ao Grammy Latino, não sei da execução internacional.
13) RM: É possível sobreviver exclusivamente de direito autoral de suas músicas?
Chaul: Nunca! Sobrevivo de minha aposentadoria como Professor Universitário, trabalhos extras e palestras, além de Assessoria Cultural no Tribunal Regional Eleitoral. Fui durante 15 anos, Secretário de Cultura de meu Estado, o que me permitiu um amplo e maior conhecimento dos caminhos culturais.
14) RM: Depois que você teve letras de canções que se tornaram conhecidas, aumentou a procura de compositores em busca de parceria?
Chaul: Muito. Tenho diversos parceiros mais cotidianos, alguns com mais de 80,100 canções. Outros com uma ou duas. Não nego a feitura de letras. Acho que tenho obrigação de dividir um dom, além do prazer que se realiza com uma música boa feita.
15) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na função de letrista?
Chaul: Mais feliz, sentir a recepção social de uma letra, o arranjo, a composição final e ver o resultado belo do que foi feito conjuntamente. Triste, eu não poder transferir um trabalho dedicado em recursos financeiros. Não dá para viver ou sobrevier de direitos autorais, no meu caso.
16) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira profissional?
Chaul: Minha profissão é de historiador, na qual já pesquisei e produzi muito. 12 Livros e inúmeros artigos em Revistas Especializadas. Sou membro emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e Ocupante da Cadeira nº 3 da Academia Goiana de Letras. Caminho nessas searas. A música é meu outro Lado da Lua: a do prazer, da inspiração, do legado cultural paralelo a tudo que faço.
17) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Chaul: Trabalho, Pesquiso, Escrevo, Produzo. Satisfeito com o que tenho feito.
18) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Chaul: Ajuda no contato com o mundo, na pesquisa necessária, na comunicação em grupos, no conhecimento ampliado. Não me prejudica, pois, sei dosar as redes.
19) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?
Chaul: Difícil… No Brasil, não basta ter uma grande canção. Isso é fácil, mas difícil é você ter uma Obra. Meus compositores preferidos estão em voga: Tom Jobim, Chico, Caetano, Gil, Milton, Djavan, Belchior, Paulinho da Viola, Edu Lobo… essa geração que me acompanha desde sempre e que eu ouço desde que me conheço por gente.
Duas revelações que aprecio: Zeca Baleiro e Chico César. Regrediu quem não manteve o pique: boa parte do Rock nacional. Adoro Legião Urbana e Titãs. A maioria não produziu mais como nos anos 80.
20) RM: Você acredita que as suas músicas tocarão nas rádios sem pagar o jabá?
Chaul: Não atuo nesse horizonte e nunca pedi ninguém para tocar nada. Não saberia avaliar pois faço a letra e vejo resultados prazerosos.
21) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Chaul: Faça bem-feito ou não faça. O Brasil, musicalmente, não é para amadores.
22) RM: Quais os prós e contras de Festival de Música?
Chaul: Ajudaram nas suas épocas, lançaram muitos talentos e foram responsáveis por uma ebulição na transição da Bossa Nova para o Tropicalismo. Contras: nada!
23) RM: Os Festivais de Música ainda têm importância para revelar novos talentos?
Chaul: Creio que não. Estão datados. Hoje o caminho é totalmente outro. Redes Sociais, EPs, sorte. Os Festivais ficaram no imaginário popular, referências de uma época importante. Acabaram no momento certo. Hoje as coisas apodrecem antes de amadurecer.
24) RM: Como você analisa a cobertura feita pela mídia da cena musical brasileira?
Chaul: Muita imagem para pouca consistência. Tudo é negócio, a negação do ócio. “Nossos ídolos ainda são os mesmos”! A mídia está interessada no momento. Faz tempo que é o sertanejo.
25) RM: Bob Dylan ganhou o prêmio Nobel de Literatura em outubro de 2016. Será que este fato anima outros letristas a “sonharem” com prêmios na área de Literatura ou é um fato isolado?
Chaul: Bob Dylan é o ícone de uma geração. As letras, a meu ver, são superiores às músicas. Nos permitiu sonhar com um mundo melhor e mais crítico. Portanto, podemos continuar sonhando. Acho que Paulo César Pinheiro e Aldir Blanc mereceriam algo similar no Brasil.
26) RM: Os músicos americanos são conhecidos como grandes cantores, melodistas e arranjadores. Qual a sua opinião sobre a qualidade deles como letrista?
Chaul: Conheço pouco. Cole Porter, Bob Dylan. Não saberia avaliar pois sempre me fixei mais nas melodias do que nas letras.
27) RM: Nos apresente os livros que você já lançou?
Chaul: Vamos lá: a Construção de Goiânia e a Transferência da Capital. O Coronelismo em Goiás: estudos de casos e família. História Política de Catalão. Os Caramujos Contemporâneos da Modernidade. Goiás:1722-2002. GOIÁS.
A Cidade dos Sonhos. História Política de Goiás. Caminhos de Goiás: da construção da decadência aos limites da modernidade (5ª Edição). Não Consta dos Autos: Histórias da Magistratura Goiana. O Letrista.
28) RM: Qual a sua opinião sobre a função positiva do crítico musical?
Chaul: Quando é bem embasado é bom. Quando conhece e torna-se construtivo, é válido. Quando critica para destruir é desnecessário.
29) RM: Qual sua opinião sobre os livros ou sobre a análise do Luiz Tatit sobre a função da letra na música?
Chaul: Luiz Tatit faz parte dessa fundamental Lira Paulistana, com Ná Ozetti, Grupo Rumo e José Miguel Wisnik. Ele corrobora comigo sobre a diferença entre letra e poesia, uma vez que, na sua opinião, a letra não pode ser vista sem a melodia. Como excelente teórico e compositor, as duas coisas se encaixam e, muitas vezes, uma letra sem maiores resultados, ao juntar-se com a música ganha outra dimensão.
30) RM: Nietzsche comenta que a melodia(música) sem letra perturba a alma. O que você acha dessa afirmação?
Chaul: Cada momento em sua dimensão. A música erudita sobrevive sem necessidade de letras, o chorinho idem. Talvez acalme a alma mais do que a letra possa perturbar. Nietzsche, a meu ver, não precisava de música ou letra para sentir-se com a alma perturbada.
31) RM: No tempo da Ditadura Militar no Brasil as letras que tinham engajamento político fizeram sucesso. Qual a importância de letras que não tratem só do tema Amor?
Chaul: Muitas permaneceram como resistência, refletiram momentos de enfrentamento com a ditadura militar e nos possibilitaram uma revanche contra os absurdos da época. Estão sendo cantadas até hoje como linguagem contra a censura, o arbítrio e as mazelas nacionais.
32) RM: Qual a sua opinião sobre “as letras pra acasalamento” que tocam no rádio (FUNK, Sertanejo, Pagode, Forró, etc)?
Chaul: Não escuto e nem conheço Música Sertaneja, FUNK. Pagode, eu gosto mesmo é de Samba, Forró gosto muitos dos clássicos. Dominguinhos, Geraldinho Azevedo, Alceu Valença, Banda de Pau e Corda…
33) RM: Renato Russo comento que as letras que falam de amor sempre estarão na moda. Qual sua opinião a respeito dessa afirmação?
Chaul: Roberto Carlos está aí até hoje para provar as razões de Renato Russo. O Amor, bem-feito em uma letra, é eterno. De Noel Rosa a Djavan isso é claro. É o grande tema universal.
34) RM: Você acha que as pessoas no geral estão mais para aceitar as letras que buscam o entretenimento ou a divagação lírica do que proporcionar reflexões humanas e sociais profundas?
Chaul: Cada geração tem sua história e seus propósitos. Cada época caminha com seu processo histórico. Cada Cultura com suas dimensões. Particularmente, prefiro as letras que buscam reflexões sociais ou amorosas. Para o entretenimento existem outras áreas na cultura.
35) RM: Quais os seus projetos futuros?
Chaul: Continuar pesquisando: Estou escrevendo um livro que busca analisar como a música caipira de raiz foi acrescida da Jovem Guarda e o resultado disso foi o romantismo do sertanejo. Como Goiânia – GO, com seu processo histórico, pode ser o berço da migração paulista desse contato.
36) RM: Quais os seus contatos com o público?
Chaul: Pessoalmente, pouco. Minha inserção é através de meus trabalhos na História, via Universidades, na música através da divulgação e shows de meus parceiros e do reconhecimento de meu trabalho nas diversas áreas culturais. O Letrista, especificamente, é meio que o Golberi da gestão, em um sentido mais positivo (risos). Mas pode ser por: [email protected] | https://www.instagram.com/chaul57
Saudade Brejeira (José Eduardo Moraes / Chaul) – Marcelo Barra: https://www.youtube.com/watch?v=J7HOXqVcOHE
Fado de Vila Boa (Pádua / Chaul): https://www.youtube.com/watch?v=ahQKlOMlYxY
O Outro Lado da Lua (Fernando Perillo / Chaul): https://www.youtube.com/watch?v=zBsmX2RI7Qo
Coração Retirante (Gustavo Veiga / Brandão / Chaul): https://www.youtube.com/watch?v=ORgsJQZ5Zik
Escrituras (Écio Duarte / Adélia Prado / Chaul): https://www.youtube.com/watch?v=Yw6pnXiUaMQ
Capim Cheiroso (Juraildes da Cruz / Écio Duarte / Chaul): https://www.youtube.com/watch?v=sagBnbUsCa8