Sister Mika Black como é conhecida artisticamente no período da pandemia do Covid-19, quando surgiu o desejo de montar um Sound System com seu parceiro de palco e esposo Selector Pepi Roots.
Em 2021 surgiu o Lion’s Corporations Sound System, uma torre com diversos altos falantes fazendo animação em formato vinil aos moldes como era feito na década de 70 na Jamaica.
Resgatando a era dourada do reggae em um formato marcado por apresentações repletas de improvisos, criatividades e sonoridades diversificadas do universo da música jamaicana, tocando o melhor do Reggae Roots, Dancehall, Lovers Rock’s, Ska, Dub, dentre outras vertentes do Reggae Music.
Sister Mika Black primeira mulher negra potiguar cantora de Sound System, sempre gostou de cantar e viu a oportunidade surgindo quando começou a estudar sobre a cultura das torres.
Vendo o poder, força e voz que as mulheres tinham levado suas torres as ruas para realização de bailes, dos improvisos nas letras de empoderamento, do quanto se sentiu representada.
E o quanto queria ser uma voz feminina que pudesse fortalecer outras mulheres através de suas músicas a sister buscou inspiração em grandes artistas nacionais e internacionais como Judy Mowatt, Rita Marley, Marcia Griffths, Marina P, Reemah, Feminine HiFi, Laylah Arruda, Sistah Chilli, Regiane Cordeiro, Pretta Soul e Cabocla de Jurema.
No dia 19 de agosto de 2024 lançou seu primeiro EP – “JAH É O PODER”, com músicas autorais de reflexão, empoderamento e um tempero do Dub. Ela realizou o sonho de gravar seu primeiro vídeo clipe JAH É O PODER – O FILME, que conta um pouco da trajetória da Cultura Sound System, com a sonoridade das músicas do Ep. Esse belíssimo trabalho foi lançado em maio de 2025, com recurso de um Projeto Contemplado no Edital de Seleção de Projetos de Audiovisual da Lei Paulo Gustavo Nº 01/2023.
A Cultura Sound System lhe abriu caminhos, sua voz ecoa nos paredões do Lion´s Corporations, backvocal desde 2023 com a Banda Pretta Soul, Selecta em eventos e feiras, participou do julho das Pretas, Baile das Pretas 2023, Festival Rap Representa 2023 e 2024, Festival Munguzá 2024, sendo uma das Homenageadas da Noite na primeira Edição Julho das Pretas da Segunda de Vagabundo 2023. Em maio de 2025 foi premiada na Categoria Linguagens Urbanas no Prêmio Hangar.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Sister Mika Black para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 13/10/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Sister Mika Black: Nasci no dia 06/02/1986 em Natal – RN. Registrada como Micarla Rosy de Sousa Reis.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Sister Mika Black: Aos 10 anos de idade fiz meu primeiro teste e entrei para o coral infantil na escola em que estudava, passei um ano no coral logo após precisei sair porque iria mudar para outra escola no ano seguinte.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Sister Mika Black: Sou cantora, compositora e selecta. Formada em Administração com MBA em Logística.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Sister Mika Black: Ouvia muito Bob Marley, Jimmy Cliff, Os Karetas, porém minha maior influencia musical no passado sempre foi o samba reggae, tenho uma admiração enorme pela Banda Reflexu’s em especial Marinez de Jesus com sua voz potente e estilo único de se apresentar; Atualmente ouço muito cantoras de reggae jamaicanas Juddy Mowatt, Rita Marley, Marcia Griffths, Jc Lodge, Dezarie, Reemah, Queen Omega, Laylah Arruda, Sistah Chilli, Sistah Mari, Miss Ivy, Denise D’ Paula.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?
Sister Mika Black: Em 2019 meu parceiro (Pepi Roots) iniciou o projeto de criação do Sound System e externou o interesse de ter uma voz, foi quando comecei a estudar sobre e me oferecer para ser essa voz. E no dia 25 de setembro de 2021 realizamos o lançamento do S.S. Lion’s Corporations juntamente com a minha estreia nos palcos.
06) RM: Quantos CDs lançados?
Sister Mika Black: Em maio de 2024 lancei meu primeiro “JAH É O PODER”.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Sister Mika Black: Essencialmente Reggae.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Sister Mika Black: Passei um ano realizando aulas de canto.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Sister Mika Black: O estudo das técnicas vocais nos mostra novas nuances, outros potenciais vocálicos, trabalha nossa respiração no momento do canto, trabalha como, e de que forma podemos atingir notas altas sem que fique desconfortável.
O cuidado com a voz é primordial para quem faz o uso como instrumento de trabalho, aquecimento vocal, exercícios vocálicos fazem com que a voz fique limpa e confortável sem causar “calos” ou rouquidão nas cordas vocais.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Sister Mika Black: Juddy Mowatt, Rita Marley, Marcia Griffths, Jc Lodge, Dezarie, Reemah, Queen Omega, Laylah Arruda, Sistah Chilli, Sistah Mari, Miss Ivy, Denise D’Paula.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Sister Mika Black: Minhas composições são muito de momento, tenho música escrita em um dos momentos mais delicados da minha vida quando perdi meu pai. Tenho música escrita em meio a uma exibição de filmes, após assistir documentário e por aí vai (risos).
12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?
Sister Mika Black: Meu Parceiro de palco e de Vida selector Pepi Roots.
13) RM: Quem já gravou as suas músicas?
Sister Mika Black: Por enquanto somente eu.
14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Sister Mika Black: Altamente desafiador, precisamos nos submeter a realizar show’s abaixo custo para podermos divulgar o nosso trabalho até conseguirmos confiança do mercado. Prós tenho autonomia para realizar o trabalho do jeito que planejo.
15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Sister Mika Black: Busco sempre estar informada sobre as tendências musicais, nuances, figurinos, para me manter sempre atualizada, e levar o melhor para o meu público.
16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Sister Mika Black: O uso das redes sociais tem sido uma grande aliada nesse desenvolvimento.
17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Sister Mika Black: A internet só me trouxe benefícios, com ela faço divulgação dos show’s, lançamentos de trabalhos, além de me aproximar do meu público.
18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Sister Mika Black: As vantagens do home estúdio é que alguns os custos financeiros da produção musical diminuem. E a desvantagem é a qualidade da produção que também cai, pois a gravação analógica com músicos está sendo substituído pelos sons digitais.
19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Sister Mika Black: Sempre busco colocar a minha identidade em cada projeto, em cada letra de forma que o meu público se sinta representado (a) nas letras, fazendo com que ao ouvirem vão identificar que foi feito pela Sister Mika Black.
21) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Sister Mika Black: Harrison da banda Groundation, Dezarie, Reemah.
22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Sister Mika Black: Em uma de nossas apresentações com o sound system S.S. Lions Corporations uma cantora de reggae que naquele período atuava em Natal – RN nos pediu para dar uma oportunidade ao amigo dela que era desenrolado no DUB, já metia letra e tal… eu disse: chama o brother. Quando o vi, ele já havia tomado umas bebidas, mesmo assim demos o voto de confiança, passei o microfone e o selector Pepi Roots soltou o Dub, soltou a primeira, a segunda, já ia iniciar a terceira pedindo mais DUB já com tom de ordem, me aproximei dele, pedi licença e peguei o microfone, e já fui pedindo para o público para aplaudi-lo e agradecendo a participação (risos). Infelizmente nesse meio temos que estar preparados para tudo.
23) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Sister Mika Black: O que me deixa feliz é saber que estou fazendo o que gosto, poder levar entretenimento para a mulherada onde elas se sintam identificadas em cada sessão, saber que aquelas selectas foram selecionadas para elas apreciarem, se jogarem mesmo na pista.
O que mais me entristece é a falta de coletividade, vejo e ouço muito as cobranças por eventos de reggae, quando tem um evento, as mesmas pessoas que cobram não se estão presentes, não interagem nas publicações das redes sociais.
Enfim, não ajudam em nada, criticam quem está fazendo, muitas vezes sem ajuda de edital ou apoio financeiro, mas ainda sim esses mesmo que cobram dizem que “Levantam a bandeira do Reggae”
24) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Sister Mika Black: Chegou em um assunto delicado, porém necessário. Então, vemos que atualmente as músicas tocadas nas rádios são feitas de quase que um único estilo musical, diferente das programações ouvidas nas décadas de 80 e 90 onde havia uma diversidade enorme de gêneros musicais tocados. Ouvir um reggae sendo tocado nos programas de rádio hoje em dia é raríssimo, e para quem está ainda concretizando a carreira artística é quase impossível.
Posso dizer que tive parceiros assim como eu com produções independentes, que me presentearam com a oportunidade de poder ouvir minhas músicas sendo tocadas nas ondas do rádio sem precisar pagar jabá ou empresários fortes fazendo essa ponte.
Desde deixo registrado o meu agradecimento a Rinelton Ras do Programa Mundo Reggae e Carlos Goto do Programa Reggae Jamaica que chegaram junto e fortaleceram esse corre, sem eles essa missão não seria possível ou somente mediante ao pagamento do jabá.
25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Sister Mika Black: Assim como em toda carreira nada será fácil, sempre terá altos e baixos, pensamentos de desistência. E se é algo que você realmente quer fazer, persista, resista, faça com amor, acredite no seu potencial e tudo acontecerá no momento certo.
26) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Sister Mika Black: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é insuficiente, eles escolhem um estilo musical para trabalhar de forma intensiva em determinados períodos, fazendo uma lavagem cerebral nas pessoas, que pouco se ouve falar em outros estilos a não ser o que a mídia brasileira permite no momento.
27) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Sister Mika Black: É de grande valia principalmente para os artistas independentes, é uma forma colaborativa e de incentivo para construção de Ep’s, Disco, Clipes, show’s de lançamento, além de permitir a geração de renda para os profissionais que trabalham na construção de todos esses projetos.
28) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Sister Mika Black: A cena reggae no Brasil segue crescendo e buscando cada vez mais a conexão com suas origens Jamaicanas, trazendo grandes artistas internacionais para se apresentarem, tendo crescente número de Sound System, Cantores (as), Dj’s, Singjay’s.
E com a retomada dos Vini’s o comércio deu aquela aquecida, os colecionadores não vão querer deixar de ouvir aquela “PEDRADA” no formato analógico que só as radiolas nos permitem. A mulherada vem representando muito, início com Nagai que lançou um álbum sensacional Back To My Roots.
Nacionalmente cito as manas Sistah Chilli, Sistah Mari, Laylah Arruda que lançaram discos maravilhosos recentemente, todas elas seguem firmes na missão. Não acredito que haja regressão musical por parte de algum artista, acredito em momentos e os artistas vive em constante mudanças musicais e sonoras.
29) RM: Você é Rastafári?
Sister Mika Black: Não sou Rastafári, sou de religião de matriz africana.
30) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa tal afirmação?
Sister Mika Black: Os Rastafáris vivem essa cultura, fisicamente e espiritualmente. A conexão espiritual com JAH é muito forte vai muito além do que os nossos olhos veem, tem músicas escritas que são como rezas, clamor, protestos vividos pelo seu povo.
31) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
Sister Mika Black: O Desprestígio à Cultura Negra, dificulta nosso desenvolvimento interno.
32) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System?
Sister Mika Black: Os Prós do formato Sound System é que as funções ficam mais centralizadas. Os contras é que na maioria das vezes os contratares não querem pagar o valor do cachê por achar que a quantidade de artistas reduzido gera menos custos.
33) RM: Quais as diferenças de se apresentar com banda em relação ao formato com Sound System?
Sister Mika Black: Para uma apresentação com banda exige uma quantidade maior de instrumentistas para uma boa apresentação, já no formato Sound System tendo um Selector (@) e um Cantor (@) já fazemos o baile acontecer.
34) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae e o uso da maconha?
Sister Mika Black: O uso da maconha é feito pelos Rastafáris em suas cerimonias religiosas para que eles possam se conectar com JAH (DEUS) através da espiritualidade.
Os grandes nomes do cenário artístico jamaicano por serem rastafáris faziam aparições públicas ou até mesmo em seus vídeos clipes fazendo o uso da ganja (cannabis sativa), em muitos momentos como esse refletiam sobre a vida em comunhão com os irmãos e deixavam fluir seus pensamentos que logo breve se tornariam grandes clássicos do reggae como Peter Tosh – Rastafari Is.
35) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a cultura Rastafári
Sister Mika Black: Como falado anteriormente algumas letras de grandes artistas jamaicanos como Vaugh Benjamin da banda Midnite traz em suas músicas momentos de reflexão sobre a vida, sobre se conectar e buscar a JAH quase que como uma oração.
Letras inspiradas na filosofia da Cultura Rastafári, assim como tantos outros artistas também se inspiram ou já se inspiraram. Essa relação nos faz relembrar o quão é importante sabermos a origem e a finalidade do reggae.
36) RM: Quais os seus projetos futuros?
Sister Mika Black: Trabalhar no meu segundo EP. Fazer com que a Cultura Sound System se torne mais forte em Natal-RN.
37) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Sister Mika Black: [email protected] | https://www.instagram.com/sistermikablack | https://www.instagram.com/lions_corporations
Canal: https://www.youtube.com/@sistermikablack7017
Canal: https://www.youtube.com/@lionscorporations2122