O cantor e ator paranaense Fabiano Medeiros, conhecido por sua brilhante interpretação de Ney Matogrosso no musical “Cazuza – Pro dia nascer feliz”, apresenta o show “Pura Alquimia” onde faz uma emocionante homenagem aos 50 anos de carreira de Ney Matogrosso, um dos maiores ícones da música brasileira.
Fabiano Medeiros se destaca pela intensidade de suas performances e pela habilidade de transitar entre diferentes linguagens artísticas. Em Pura Alquimia, Fabiano e sua banda mergulham na psicodelia que marcou a década de 70, trazendo à tona a energia vibrante e transgressora do repertório de Ney Matogrosso e Secos & Molhados. Fabiano Medeiros interpreta grandes sucessos como: “Balada do Louco”, “Sangue Latino”, “Pro Dia Nascer Feliz”, “Bandoleiro”, “Fala”, “Pavão Mysterioso”, entre outros.
Com performances de tirar o fôlego, Pura Alquimia é uma verdadeira viagem no tempo, enquanto presta uma homenagem merecida ao legado de Ney Matogrosso e Secos & Molhados. O show é uma celebração do talento, da ousadia e da arte de um dos maiores nomes da música brasileira.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Fabiano Medeiros para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 26/09/2025:
01) Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Fabiano Medeiros: Nasci no dia 12 de outubro de 1967, em Curitiba (PR). Meu pai (Gilberto Medeiros) foi cantor de rádio e ator — embora, quando eu nasci, já estivesse afastado dos palcos. Essa herança artística influenciou muito a minha proximidade com a música e o teatro desde cedo.
02) Fale do seu primeiro contato com a música.
Fabiano Medeiros: Meu primeiro contato com a música aconteceu dentro de casa. Meu pai, Gilberto Medeiros, era cantor e ator, e minha mãe sempre incentivou a expressão artística. Lembro-me dele contando histórias de suas experiências no rádio e das reuniões familiares, que invariavelmente terminavam em momentos de cantoria.03) Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Fabiano Medeiros: Minha formação acadêmica é em Matemática, pela Unicentro (Universidade do Centro-Oeste do Paraná). Trabalhei durante anos no Banco do Brasil antes de me dedicar integralmente à arte. Essa experiência fora da música foi fundamental, porque me deu disciplina, organização e um olhar prático que até hoje carrego na carreira artística. A música, no meu caso, veio muito por osmose, como algo natural e inevitável.
04) Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Fabiano Medeiros: No início, fui muito impactado pela música brasileira de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gal Costa, Ney Matogrosso, Gonzaguinha. Esses artistas formaram meu alicerce estético. Hoje continuo reverenciando esses mestres, mas também me permito dialogar com novas vozes e sonoridades da MPB contemporânea. Talvez o que tenha perdido importância ao longo do tempo não sejam artistas específicos, mas sim algumas formas de encarar a música de maneira rígida. Aprendi a me abrir mais, sem perder minhas raízes.
05) Quando, como e onde você começou sua carreira musical?
Fabiano Medeiros: Minha carreira começou de forma mais estruturada em 1994, quando fundei o Grupo Fato, em Curitiba, ao lado de Grace Torres e Ulisses Galetto. O grupo trouxe uma proposta ousada: valorizar a música paranaense por meio da experimentação estética, unindo música, teatro e artes plásticas. Foi nesse momento que percebi, de forma definitiva, que a arte seria o meu caminho.
06) Quantos álbuns lançados?
Fabiano Medeiros: Ao longo da minha trajetória, lancei um álbum solo completo — Achado (2004) — e diversos singles e projetos especiais que foram marcando etapas da minha carreira. Entre eles, trabalhos como Augusta, Angélica e Consolação, Espumas ao Vento, Tropicália, Telegrama, o EP Especial, além de músicas como Sublime, Bicho eXquisito, Tempo Escuro (com participação de Zeca Baleiro), Vertigem, Sentimentos Soltos, Na Hora do Medo e Deus Se Fez Flor. Cada um desses registros representa uma fase e uma busca diferente dentro da minha expressão musical.
07) Como você define seu estilo musical?
Fabiano Medeiros: Defino meu estilo como uma vertente contemporânea da MPB, que dialoga com a tradição, mas também busca novas sonoridades e formas de expressão. Gosto de transitar entre o lirismo poético e a força interpretativa, mesclando a dramaticidade do teatro com a sutileza da canção brasileira.
08) Você estudou técnica vocal?
Fabiano Medeiros: Sim. Ao longo da carreira tive a oportunidade de estudar técnica vocal com professores e preparadores, além da vivência prática nos palcos, que também é um grande aprendizado. A experiência como ator me ajudou a compreender melhor o corpo como instrumento e a voz como extensão dessa expressão.
09) Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Fabiano Medeiros: A técnica vocal é fundamental não apenas para cantar melhor, mas para cantar com saúde e longevidade. Cuidar da voz é cuidar do meu ofício — envolve preparo físico, aquecimento, respiração, alimentação e descanso. Nem sempre consigo, mas tento! (risos). O estudo me deu ferramentas para ter mais consciência e segurança, sem perder a naturalidade da interpretação.
10) Quais as cantoras (es) que você admira?
Fabiano Medeiros: Admiro profundamente artistas como Gal Costa, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Maria Bethânia, Elis Regina, que sempre me inspiraram pela entrega e autenticidade. Também tenho uma admiração especial por nomes contemporâneos que vêm renovando a MPB, trazendo frescor sem perder a profundidade.
11) Como é seu processo de compor?
Fabiano Medeiros: Não sou compositor; sou intérprete. Estou sempre a serviço da obra, buscando transmitir toda a emoção, intenção e profundidade da música de quem a criou.
12) Apresente sua atuação como ator.
Fabiano Medeiros: Como ator, participei de diversos espetáculos teatrais e musicais, sempre buscando unir interpretação e música. Fiz parte por quase 10 anos da Armazém Cia de Teatro, uma das mais respeitadas companhias de teatro do país. Um dos momentos mais marcantes foi minha participação em Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, em que pude interpretar com intensidade e sentir o impacto da performance no público. Também atuei em outras montagens e projetos que exigiram integração entre música e interpretação, fortalecendo minha presença de palco e minha expressão artística como um todo.
13) Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Fabiano Medeiros: O lado positivo é a liberdade criativa: posso escolher repertório, estética e projetos de acordo com minha visão artística, sem compromissos externos. Por outro lado, exige disciplina, planejamento e investimento próprio, além de enfrentar desafios na divulgação e distribuição do trabalho. É gratificante, mas também demanda muita resiliência.
14) Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Fabiano Medeiros: Dentro do palco, foco na preparação da voz, na interpretação e na conexão com o público. Fora dele, planejo a agenda de shows, estratégias de divulgação, relacionamento com produtores e parceiros, além da presença digital e comunicação com os fãs. Busco equilibrar o lado artístico e o administrativo da carreira, para que cada projeto seja bem estruturado e impactante.
15) Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?
Fabiano Medeiros: Busco sempre agir de forma proativa: Estou atento aos editais culturais vigentes, possibilidades de agenda, planejo meus shows, participo da criação e divulgação de projetos, cuido da presença digital e mantenho contato próximo com produtores, músicos e parceiros. Também invisto em aprimoramento contínuo da voz e da interpretação, para que cada apresentação seja consistente e memorável.
16) O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira musical?
Fabiano Medeiros: A internet é uma ferramenta poderosa para divulgar trabalhos, conectar-se com fãs e alcançar públicos que, de outra forma, seriam difíceis de atingir. Por outro lado, o excesso de informação e a volatilidade das redes podem tornar o acompanhamento de carreira mais desafiador e exigir atenção constante para se destacar de forma autêntica.
17) Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Fabiano Medeiros: A grande vantagem é a autonomia: posso gravar, experimentar e refinar ideias com liberdade. A desvantagem é que, sem a disciplina e o conhecimento técnico adequados, o resultado pode ficar aquém do desejado. É uma ferramenta incrível, mas exige estudo e cuidado para garantir qualidade profissional.
18) No passado, a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje, gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Fabiano Medeiros: Busco entregar interpretação autêntica e profunda, escolhendo repertório que dialogue com minha sensibilidade e com o público. Além disso, trabalho com uma preparação cuidadosa da voz, da performance e da presença de palco, e mantenho uma conexão constante com fãs e produtores, o que ajuda a criar uma identidade própria e diferenciada dentro do cenário da MPB.
19) Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira? Em sua opinião, quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Fabiano Medeiros: A MPB continua sendo um terreno fértil de talentos e inovação. Houve muitas revelações nas últimas décadas, artistas que surgiram com identidade própria e buscaram novas linguagens, enquanto outros mantiveram consistência em suas obras, preservando a tradição e a qualidade musical. De modo geral, vejo um cenário vibrante, diverso e cheio de possibilidades.
20) Quais as situações mais inusitadas que aconteceram na sua carreira musical?
Fabiano Medeiros: Ao longo da carreira, já vivi momentos bastante inusitados: desde shows em ambientes improváveis até situações em que o público não estava receptivo. Também houve momentos em que precisei improvisar diante de falhas técnicas ou contratempos. Cada experiência, positiva ou desafiadora, contribuiu para fortalecer, independentemente das circunstâncias.
21) O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Fabiano Medeiros: O que mais me deixa feliz é a conexão com o público: sentir que uma canção tocou alguém profundamente, que a emoção que transmiti chegou de fato e que provoquei reflexão sobre algum tema apresentado. O que me entristece é ver talentos desperdiçados por falta de oportunidade ou por obstáculos estruturais, e, claro, situações em que a música não pode ser compartilhada da forma que mereceria.
22) Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?
Fabiano Medeiros: Acredito que existe sim um Dom musical, mas ele só se manifesta plenamente quando aliado a estudo, dedicação e sensibilidade. É a capacidade de se conectar com a música de forma intuitiva, transmitir emoção e interpretar obras de forma única — algo que vai além da técnica e da memória musical.
23) Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?
Fabiano Medeiros: Para mim, a improvisação musical é a capacidade de dialogar com a música e o momento de forma espontânea, sem perder a coerência da interpretação. É uma expressão da sensibilidade do intérprete, que sabe ouvir, reagir e criar no instante, respeitando a obra original.
24) Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?
Fabiano Medeiros: Na minha experiência, existe uma fusão de ambos: a improvisação nasce da preparação, do estudo e da vivência com o repertório, mas se realiza de forma espontânea no momento da apresentação. O estudo é a base que permite que a improvisação seja segura, musical e significativa.
25) Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?
Fabiano Medeiros: Acredito que os métodos de improvisação são excelentes para desenvolver criatividade, sensibilidade e capacidade de reagir ao momento. Por outro lado, se aplicados de forma rígida, podem limitar a espontaneidade e tornar o improviso mecânico. O ideal é equilibrar estudo e liberdade criativa.
26) Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?
Fabiano Medeiros: Embora eu não tenha conhecimento aprofundado no assunto, acredito que o estudo da harmonia proporciona ferramentas para navegar entre tonalidades, acordes e progressões com segurança. O risco é tornar o aprendizado excessivamente teórico e distante da prática artística.
27) Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Fabiano Medeiros: Tenho que acreditar que a música de qualidade sempre tem espaço, mas reconheço que o mercado possui suas particularidades. O foco deve estar em produzir trabalhos consistentes e bem divulgados, buscando formas de se conectar com o público e com os veículos de comunicação, sem depender exclusivamente de práticas comerciais.
28) O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Fabiano Medeiros: Digo que é necessário muito amor, dedicação e disciplina. A carreira musical exige preparo técnico, sensibilidade, planejamento e resiliência. É importante estudar, ouvir e compreender a música, mas também manter autenticidade e coragem para se mostrar ao público. Não existe caminho fácil; cada passo é uma construção que demanda paciência e persistência.
29) Quais os prós e contras do Festival de Música?
Fabiano Medeiros: Os festivais de música são ótimos para revelar talentos, gerar networking e dar visibilidade. Eles oferecem experiências intensas e aprendizado rápido. No entanto, podem gerar competição excessiva e pressão desnecessária, desviando o foco do desenvolvimento artístico contínuo. É uma ferramenta valiosa se utilizada como oportunidade de crescimento, e não apenas como vitrine.
30) Festival de Música revela novos talentos?
Fabiano Medeiros: Sim, os festivais de música continuam sendo uma importante vitrine para novos talentos, pois oferecem oportunidade de mostrar trabalho, receber feedback e criar contatos com profissionais da área. No entanto, é importante lembrar que a vitória ou a visibilidade momentânea não substituem o desenvolvimento constante da carreira artística.
31) Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Fabiano Medeiros: A grande mídia ainda privilegia certos nomes e estilos, o que pode deixar muitos talentos fora do radar. É um cenário desafiador, mas que também exige estratégia, qualidade artística e persistência para conquistar espaço.
32) Qual é a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para a cena musical?
Fabiano Medeiros: Acredito que espaços como SESC, SESI e Itaú Cultural são fundamentais para o desenvolvimento da música no Brasil. Eles oferecem infraestrutura, visibilidade e oportunidades para artistas de diferentes gerações, incentivando a diversidade e a continuidade da produção musical de qualidade.
33) Quais seus projetos futuros?
Fabiano Medeiros: Estou rodando com três shows diferentes, que espero que tenham fôlego para muito tempo: Pura Alquimia – tributo a Ney Matogrosso e Secos & Molhados Tudo o que a gente sonhou – homenagem a Milton Nascimento Nossos Ídolos – repertório variado de MPB de várias gerações. Meus projetos futuros incluem o lançamento de álbum com músicas inéditas e novos shows.
34) Quais seus contatos para show e para os fãs?
Fabiano Medeiros: www.fabianomedeiros.com.br | Dona Sinhá Produções – [email protected] | [email protected]
| https://www.instagram.com/fabianomedeirosoficial
Canal: https://www.youtube.com/channel/UCy9HZJEz3iYuZw7chT1E5zA
Playlists: https://www.youtube.com/@FaBianoMedeirosOficial/playlists
Muito interessante o estilo do artista. A atuação no teatro e cenário musical realmente oferece uma vertente que nos instiga.
Trazer uma versão contemporânea da MPB e ao mesmo tempo buscando novas sonoridades é bem agradável.