Ell Rastaman é um artista da zona leste de São Paulo que vem construindo sua trajetória dentro da cultura urbana e do movimento Sound System.
Ele carrega consigo a força de suas origens e da periferia que moldou sua identidade. Seu envolvimento com a música começou de forma espontânea em 2017, quando praticava freestyle nas ruas do bairro de São Mateus ao lado de amigos, sempre acompanhado do skate, elemento presente em sua vivência juvenil.
A paixão pela cultura reggae e pelo Sound System surgiu ainda em 2015/2016, quando frequentava eventos pela capital paulista. Muitas vezes, pegava o microfone para improvisar versos ao vivo, sem pretensões profissionais — apenas pelo amor à música.
O início oficial da carreira artística veio em 2022, com o lançamento do single “DISPO” em 2023, no estilo drill, acompanhado de videoclipe disponível em todas as plataformas digitais. Esse primeiro trabalho marcou o pontapé de uma jornada que logo encontrou sua essência no reggae e na cultura Sound System.
Em 2024, Ell Rastaman lançou sua primeira mixtape, “É o Rastaman” — obra que consolida sua identidade musical e sua ligação direta com a tradição jamaicana dos sistemas de som, adaptada à realidade das quebradas paulistas. Atualmente, prepara novos projetos, incluindo uma próxima mixtape que reforçará ainda mais sua autenticidade.
Além da carreira como cantor e compositor, Ell Rastaman é produtor cultural e organizador da festa Zona Quente, iniciativa voltada à valorização e difusão da cultura Sound System na periferia. Também atua como monitor cultural na Biblioteca Mário de Andrade, ampliando seu alcance como agente transformador no cenário cultural da cidade.
Sua expressão artística também atravessa a literatura: participou do livro Revoada dos Versos, obra coletiva que reúne diferentes vozes e linguagens poéticas das periferias.
Com apresentações em bailes de reggae e eventos de rap, o artista se destaca por mesclar o reggae com diferentes vertentes da música urbana, criando um estilo único que representa a resistência cultural e a potência criativa da zona leste paulistana.
Mais do que um músico, Ell Rastaman é um possibilitador da cultura reggae e do movimento Sound System no Brasil, levando sua arte para diferentes espaços e eternizando sua história através da música.
A seguir, entrevista exclusiva com Ell Rastaman para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 03/09/2025:
01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?
Ell Rastaman: Nasci no dia 20/01/1997, em São Paulo. Registrado como Daniel Souza da Silva. Filho de Vanuza Cassimiro de Souza e José Carlos Félix da Silva. Irmão de Gabriel, Sabrina, Silas, Rafael, Kauane, Débora Souza da Silva, e pai de Miguel Antunes de Souza.
02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.
Ell Rastaman: Meu primeiro contato com a música foi a partir do freestyle, em rodas com amigos com quem andava de skate.
03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?
Ell Rastaman: Não tenho formações musicais. Fora da música, sou formado em Sonorização pela Escult e em Agente Cultural. Atualmente, estou em processo de formação como produtor cultural pelo programa Jovem Monitor Cultural, atuando na Biblioteca Mário de Andrade como Produtor Técnico.
04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?
Ell Rastaman: Minhas referências no passado eram MC Daleste, MC Dedê, MC B.O. Depois que conheci outros gêneros como o rap e a cultura Sound System, passei a me inspirar na obra de Racionais MC’s, SNJ, Ao Cubo, King Yellowman, Ward 21, Red Lion, DJ Fya Sound, entre outros. Hoje em dia, tenho muitas influências da nova geração, mas nenhuma deixou de ser importante para meu crescimento como artista.
05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?
Ell Rastaman: Minha carreira se tornou realidade em abril de 2022, no aniversário do bairro Cidade Tiradentes, no palco da Casa de Cultura Hip-Hop Leste. Fui convidado para abrir o show do Red Lion por um jovem monitor da casa. Mas acredito que minha caminhada começou mesmo quando frequentava eventos de Sound System e pedia para rimar. Foi nesses eventos underground do bairro de São Mateus que nasceu Ell Rastaman.
06) RM: Quantos álbuns lançados?
Ell Rastaman: Tenho uma mixtape com sete músicas lançada em 2023, disponível em todas as plataformas. Também lancei um single no canal do QCS e participei de dois feats. Tenho outros trabalhos prontos para lançamento.
07) RM: Como você define seu estilo musical?
Ell Rastaman: Versátil e autêntico. Canto dancehall, rap, trap, funk, drill, e não limito minhas possibilidades criativas.
08) RM: Você estudou técnica vocal?
Ell Rastaman: Apesar de sempre ter interesse, nunca estudei técnicas vocais.
09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?
Ell Rastaman: Cuidar da voz é essencial. É a nossa ferramenta de trabalho. Saber usá-la potencializa a performance ao vivo, nas gravações e nas apresentações.
10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?
Ell Rastaman: Do Sound System: Red Lion, Arcanjo Ras, Oc Besten, Tipo Gão, Nobru na Voz, Lil Kell, Pump Killa, Mya Akoma. De outros gêneros: Leall, Major RD, TZ da Coronel, Duzz, Marcellius B, P.L.A, Cariocann, Síntese, Leal, Mano Brown, entre outros.
11) RM: Como é o seu processo de compor?
Ell Rastaman: Faço freestyles e gravo. Quando sinto que acertei, escrevo por cima da gravação. Hoje, tenho procurado escrever sobre temas específicos.
12) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?
Ell Rastaman: Prós: liberdade criativa, controle sobre as conexões e lançamentos.
Contras: sobrecarga, necessidade de saber fazer tudo — produção artística, executiva, técnica e assessoria.
13) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?
Ell Rastaman: Ser real, manter minha essência/caráter e não me corromper por visualizações ou status.
14) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?
Ell Rastaman: Estudo produção musical e cultural, escrevo projetos e invisto no meu próprio estúdio.
15) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?
Ell Rastaman: Ajuda no aprendizado e na divulgação do meu trabalho. Não vejo prejuízos diretos.
16) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?
Ell Rastaman: Vantagem: independência e troca de experiências com outros produtores., no meu ponto de vista não existe desvantagem
17) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?
Ell Rastaman: Evito seguir tendências e me comparar com outros artistas . Prefiro fazer o oposto da maioria e manter minha identidade musical
18) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?
Ell Rastaman: Red Lion, Macaia Records, Scof Savage, Mya Akoma, Sista Marih, DJ Fya Sound, coletivo Muc Sound & Dance Machine.
19) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?
Ell Rastaman: Falta de profissionalismo dos contratantes é o que mais enfrento como artista independente.
20) RM: O que te deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?
Ell Rastaman: O que me deixa feliz é saber que a música me tirou das drogas e hábitos destrutivos. E triste é saber que nessa caminhada vou encontrar carreiras movidas por ego, futilidade e falta de empatia.
21) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?
Ell Rastaman: Acredito que minhas músicas tocaram nas rádios sem o pagamento do jabá. Minha arte chegará aonde tiver que chegar, tudo na permissão de Deus
22) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?
Ell Rastaman: Digo que seja respeitoso, autêntico, cuide da sua família, tenha planos, metas e propósitos.
23) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?
Ell Rastaman: A grande mídia busca o que vende, não o que transforma. Não há espaço real para a cultura Sound System.
24) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?
Ell Rastaman: Seria interessante se houvesse mais espaço para a cena underground, não só para bandas já consolidadas.
25) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?
Ell Rastaman: Hoje o reggae atinge novas gerações. A cultura Sound System se expandiu muito. Antes quando era criança eu só conhecia Bob Marley, hoje temos dancehall, ragga, steppa, e diversos artistas fazendo história em São Paulo. O cenário é promissor. e a Juventude vem consumindo muito
26) RM: Você é Rastafári?
Ell Rastaman: Não.
27) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa tal afirmação?
Ell Rastaman: Discordo da afirmação que só adeptos do rastafári faz reggae verdadeiro. Reduzir o reggae a um nicho é limitar uma cultura que deve ser acessível a todos. Rastafári é religião e reggae é música.
28) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?
Ell Rastaman: Falta de apoio da grande mídia, existe preconceito social e falta de estrutura para exportar os artistas. Muitas vezes, a própria sociedade brasileira desvaloriza a cultura reggae.
29) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System?
Ell Rastaman: Só vejo vantagens no formato Sound System. Comecei minha carreira musical nesse formato, na rua, com o povo. Não vejo contras em se apresentar no formato Sound System
30) RM: Quais as diferenças de se apresentar com banda em relação ao formato com Sound System?
Ell Rastaman: Nunca me apresentei com banda, mas admiro. É outra energia, outro tipo de espetáculo e entrega. No Sound System, a voz é o principal instrumento junto com a qualidade sonora da amplificação.
31) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae e o uso da maconha?
Ell Rastaman: Vejo como limitação social a relação que se faz do reggae com e o uso da cannabis sativa. A maconha pode ser terapêutica, mas reduzir o reggae a isso é ignorar sua profundidade espiritual, política e apagar toda uma história feita por ancestrais.
32) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a cultura Rastafári?
Ell Rastaman: O reggae é símbolo do movimento rastafári, respeito muito mas como não sou rastafári, não posso opinar profundamente.
33) RM: Quais os seus projetos futuros?
Ell Rastaman: O lançamento da minha produtora e sigo trabalhando em futuros singles , álbuns e mixtapes.
34) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?
Ell Rastaman: (11) 96654 – 4644 | [email protected] | https://www.instagram.com/ell_rastaman | https://www.instagram.com/zoonaquente
Canal do YouTube: https://youtube.com/@ellrastaman
QCS CONVIDA #01 – Dispo (Prod. Marcellius B): https://www.youtube.com/watch?v=6kOlUaJQ-Ps&list=RD6kOlUaJQ-Ps&start_radio=1
Spotify : https://open.spotify.com/intl-pt/artist/27AgApBE8ENnT1gb6rixN6
Um artista da ZL! A zona leste de SP de fato é resistência cultural e potência criativa. Ótima entrevista!