A música na rua e arte de rua não existe uma precisão de uma data de criação. Desde a Grécia pré-socrática em que os aedos homéricos (cantores) transmitiam os seus versos e as suas músicas pelas ruas. No repertório estavam versos sobre tradições e lendas.
O objetivo era a de envolver a plateia pela melodia e pelo ritmo dos seus versos. Esses artistas também realizavam a mobilização ideológica através desses versos.
Outro registro é de meados do século XII. A Literatura Portuguesa com as suas primeiras obras literárias elaboradas na forma de poemas e como ainda não existia a impressão em livro ou jornal esses poemas eram declamados em locais públicos e nas ruas para que fossem divulgados e tinha acompanhamento musical sendo chamados de trovas ou cantigas.
Nessa época o artista de rua era chamado de Trovador e a sua missão era apresentar os versos e poemas para a satisfação do público e especialmente os reis e o clero.
O Trovador era um poeta nobre e o Jogral era um poeta plebeu. O Jogral era da classe popular e não fazia parte da nobreza. O Jogral era o que o “bobo da corte” que fazia mágicas, mímicas, acrobacias ou sátiras enquanto o Trovador era fazia o entretenimento dos mais ricos com poemas.
No Brasil no século XX o Bar e o Casa de Café tinham música ao vivo além de outras apresentações artísticas. As pessoas humildes que não frequentavam o Teatro podiam escutar as músicas que fazia sucesso no Rádio no Bar ou no Café Dançante.
Nos anos 60, 70 e 80 se apresentar em Bar, Boate e fazer parte de um Conjuntos de Baile que animavam as festavas particulares era a “escola” ou “prova de fogo” para quem queria ser músico profissional. Uma “vitrine obrigatória” para quem almejava ser contratado por uma gravadora e lançar um disco.
No século XXI a música ao vivo em Bar ganhou a concorrência do Karaokê e da TV com DVD de show de artista famoso sendo exibido como fundo musical para distrair os clientes. E rua movimentada ou praça passaram a ser uma opção de sobrevivência do músico através de contribuição dos que paravam para escutá-lo.
Uma letra que resume bem: “Foi nos bailes da vida, ou num bar em troca de pão… Que muita gente boa pôs o pé na profissão… Todo artista tem que ir aonde o povo está…” – Nos Bailes da Vida – Milton Nascimento.
A rua, o metrô, o trem e ônibus se tornaram a opção de sustento de quem está iniciando ou quem tem anos na profissão. O Bar já era um ambiente “barulhento” para o músico, as novas opções citadas podem ser “hostis e inóspitas” e caracteriza para alguns uma forma de “mendigancia musical” e nivelar por baixo a arte musical.
A maioria dos músicos não vão atuar nessas opções por uma questão ideológica, de protesto ou por querer mostrar a música autoral que não toca no rádio. O foco é cantar os sucessos e ganhar uns “trocados”. Todos queriam mesmo é se apresentar em um ambiente adequado tecnicamente e acusticamente com pessoas apreciando o seu talento.
E com a popularização das redes sociais e plataformas digitais como opção para escutar músicas, eu tenho dúvida se dentro do transporte público as pessoas estejam “ávidas” para apreciarem música ao vivo no lugar de tirar um “cochilo”, ler um livro, bater um papo ao vivo ou pelo celular ou escutar as músicas preferidas.
Quando a apresentação é muito boa, algumas pessoas se perguntam porquê esse “talento acima da média” não está fazendo “sucesso” e show em um palco apropriado e quando é ruim alguns julgam que o “sem talento” está no lugar certo por ali não ser um lugar adequado para um “show”.
Não sou contra a expressão artísticas nos espaços públicos citados apenas convido o músico a refletir sobre a utilidade, significância e dignidade artística dessa opção de sobrevivência dentro da cadeia produtiva do mercado musical.
O músico que está feliz exercendo essa atividade e o músico que se constrange ao ver a sua profissão sendo vista como “uma nota qualquer”, arte de menor valor ou “subemprego” ambos têm o meu apoio. Mas acredito em outras formas mais eficientes de formação de plateia e de sobrevivência. Músicos uni-vos em prol de uma Arte Musical que não seja tratada nem remunerada com uma “nota qualquer”.